Derek Luccas é o fundador do maior coletivo de trap do Brasil, a Recayd Mob. Na fase em que os artistas do grupo estão saindo dum momento conturbado, com brigas internas, exposição de problemas externos e uma sequência de lançamentos solo, havia uma grande expectativa sobre o segundo disco do MC. Após sofrer diversas acusações (geralmente corretas) de copiar flows e estéticas de rappers gringos, neste disco Derek põe um pouco mais sua cara e seus sentimentos, sendo um trabalho bem mais autêntico do que o que eu imaginava ouvir.
Após pausar a carreira e batalhar contra a depressão, neste disco Derek passa a dualidade de expor seus sentimentos e suas batalhas internas contra sua vida badalada como ícone do trap nacional, passeando entre bangers pra fazer todo mundo dançar em qualquer balada rap, como “For Real” ou “No Cap” e faixas pra ouvir na bad, como “Me Sinto Sozinho”. A produção em ambos os lados do disco acaba sendo o carro chefe, cedendo toda a ambientação para as duas facetas que o álbum traz. Ainda sobra espaço pra um posse cut, “Bandido Artista” com Igu e Dalsin, a única faixa em que a lírica é o que toma o foco do disco. O Igu teve tranquilamente o melhor verso.
Na lista de features, apesar de ter roubado a cena a presença do rapper gringo A$ap ANT, o que mais me chamou a atenção pela aleatoriedade foi a presença de Lucas Silveira, vocalista da Fresno. Ouvindo o disco dá pra entender um pouco mais, sendo o último disco da banda uma aparente referência na sonoridade de pelo menos duas faixas deste álbum; mas ao mesmo tempo a música com Lucas é a pior do álbum, com versos e refrão dolorosamente mal escritos e básicos, sendo muito abaixo do que é usual ao vocalista. Do lado de Derek, a escrita é mediana ao longo de todo o disco, sendo uma área com visível espaço para melhoras no futuro. O peso disso é baixo por ser um disco em que o foco não é a escrita, mas quanto mais foco a letra toma numa canção, mais exposta essa fraqueza fica. Em diversas faixas a estética mais puxada pro cloud rap tem o MC encaixando sua voz no meio dos instrumentais, com um bom uso do auto-tune que torna a voz somente mais um instrumento, tornando faixas como “Ferrari pt. 2” ou “Baby Me Desculpa” destaques do projeto.
Nas faixas mais voltadas pro trap, onde estamos mais acostumados com o MC, os flows geralmente são excelentes, tanto do MC quanto de seus convidados. Enquanto “For Real” não tem tanto destaque, as três faixas seguintes nessa área, que vem em sequência após “Não Me Sinto Sozinho”, são de alto nível. “Lounge” traz uma ótima participação de Dfideliz, enquanto em “No Cap” o rapper tem o melhor verso sobre ANT; “Fé Fé Fé” acaba sendo uma ótima vibe, mas mais curta que deveria, principalmente tendo em vista que é sucedida por um interludio que é ainda mais longo. Interlúdio esse que é extremamente agradável de se ouvir, com uma ótima participação da cantora Sue Sue.
No geral, Ícone é um disco surpreendentemente bom em todas as áreas musicais que tenta cobrir. Tendo uma faixa ou outra não tão boas e evidentes problemas de lírica, mostra que ainda há o que melhorar para o rapper, que se cerca de um excelente grupo de produtores e sabe extrair de cada beat o seu melhor, com uma versatilidade bem interessante. Nesse início de ano é um dos melhores trabalhos a sair por aqui.