Review: DaBaby – Blame It On Baby

Se 2019 teve um grande destaque no hip hop, esse seria DaBaby. O MC de Charlotte surgiu do nada com uma cara nova no trap, trazendo um flow característico empolgante, unindo agressividade e carisma em suas aparições, estando praticamente em todo lugar. Seus 2 primeiros álbuns chegaram ao top 10 da Billboard, incluindo o primeiro lugar com KIRK; teve dois grande hits: “Suge”, nominada a 2 prêmios nos Grammys e “BOP”;  se tornou a primeira escolha de convidado quando se queria um verso potente, sendo essa a área onde o rapper mais se destacou, colaborando com artistas como J. Cole, Post Malone ou Camila Cabello, além de aparecer em remixes de alguns dos maiores hits recentes como “Truth Hurts”, da cantora Lizzo ou “Panini” de Lil Nas X. Apesar disso tudo, a internet chegou a uma conclusão universal: O MC possuía apenas um flow, fazendo versões diferentes da mesma música. Sendo uma estrela criada na internet, obviamente DaBaby tomou conhecimento disso, e com seu novo álbum a missão era mostrar sua versatilidade. O problema é que infelizmente… ele não é um rapper versátil.

Em Blame It On Baby o artista passa metade do tempo abusando da mesma fórmula com a qual atingiu sucesso e a outra metade copiando formulas batidas de outros artistas. Em “SAD SHIT” e “CHAMPION” o artista faz a sua melhor imitação de Drake, no início da primeira ainda anunciando “Let me do some sad shit for the real niggas” (eu não consigo pensar numa frase mais Drake do que essa); em “DROP” ele soa como um Young Thug sem as inflexões vocais e o carisma que tanto destacam o ícone do trap. O que vemos em ambas é alguém tentando se encaixar num território estranho sem possuir essa qualidade em seu playbook.

Tematicamente o rapper chega a um ponto que quase todo artista de ascensão meteórica atinge: uma paranoia constante sobre a perseguição midiática, agindo como se todos quisessem derrubá-lo e inventassem motivos pra odiá-lo, quando ele recentemente foi visto em público agredindo uma mulher e assume no disco ter assassinado alguém. Quando sai dessa área o rapper volta ao seu estilo repetitivo de braggadocio com padrões de rimas repetidos e um conteúdo que já se tornou totalmente previsível depois de três álbuns. “CAN’T STOP” é uma abertura que tem o objetivo de elevar o nível enquanto se gaba pelos seus feitos e posses, tendo um refrão que corta totalmente o clima dos versos. A faixa traz uma das punchlines mais “curiosas” dos últimos meses:

Bitch, you know I turn piss into lemonade

Turn shit into sugar

That’s chocolate pudding

O álbum se incia em uma sucessão de faixas com batidas e versos desinteressantes. “PICK UP” traz performances totalmente esquecíveis do anfitrião e de Quavo, enquanto Future não adiciona muito na curta “LIGHTSKIN SHIT”, na qual DaBaby tem uma performance que se torna cansativa em menos de um minuto.

No meio do álbum, o rapper decide partir pra um território de faixas mais lentas, onde as letras aparecem com mais destaque que nas músicas mais enérgicas do MC e expõe uma enorme limitação na escrita. A já mencionada “SAD SHIT” traz uma tentativa de faixa mais emocional, mas não passa da história clichê “nós terminamos, eu sinto sua falta e sou melhor que o cara com o qual você está”, sem dar nenhuma profundidade para que a canção seja valiosa, além de uma péssima performance vocal no refrão. O mesmo estilo vai pra “FIND MY WAY”, onde a escrita até melhora mas o beat fraco arruína a música e “ROCKSTAR”, principal single, onde Roddy Rich traz um excelente feat. Essa faixa marca o início de uma sequência de features em que DaBaby é sempre o pior da track.

Em “JUMP” NBA Young Boy traz um verso pra por fogo em tudo, enquanto os dois demonstram uma ótima química com melhor performance pro convidado, numa faixa que seria excelente, não fosse o beat irritante. “DROP” traz um dos melhores instrumentais do disco e uma performance boa de A Boogie Wit Da Hoodie enquanto o dono do álbum falha ao tentar copiar os flows de Thugga. A última faixa com convidados é também a melhor canção do álbum (pra não dizer que é a única boa): “NASTY” traz uma vibe nostálgica do rap/r&b feminino dos anos 2000, com a saudosa Ashanti comandando o refrão e Megan Thee Stalion mostrando, mais uma vez, que, tratando-se de canções mais sexys, ela compete barra por barra com qualquer um; DaBaby, embora tenha um performance bem razoável, soa como um intruso numa faixa em seu próprio álbum. É lamentável ver o artista tendo que se apoiar tanto nos feats pra entregar uma boa track.

No meio disso está a faixa título, que poderia ser resumida numa palavra que também resumiria bem o álbum: frustrante. O início da música se dá com um beat interessante e um flow forte e característico, gerando uma ansiedade pelo drop e uma explosão. Ao invés disso o que recebemos é um beat switch estranho que quebra o clima, até que, não satisfeito, o MC resolva ir e voltar mais uma vez entre os dois beats de uma forma cartunesca e horrorosa.

Neste álbum o artista tinha como missão fazer uma afirmação, mas acabou fazendo outra. Não existe fórmula inovadora que dure muito tempo até que se torne repetitiva. A exemplo do que vimos no Brasil com Sidoka, o rapper trouxe um estilo inovador, firmando-se como um rosto muito necessária na cena do trap, mas, se tornou refém de sua própria inovação a ponto de ser claramente visível o quanto dependia dela pra obter destaque. DaBaby respondeu à acusação de que não conseguia mudar seu estilo: sim, ele consegue. Mas deixa no ar um questionamento mais inquietante ainda: ele deveria?

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