Salve quebrada, me trouxeram de volta da aposentadoria e me obrigaram a voltar a ouvir rap nacional, estava muito feliz ouvindo UK Grime, os moleque brabo da cena drill de Portugal e quizombas, mas, temos um trabalho a fazer. Hoje vamos falar de um disco de nome horroroso que, segundo o artista, é apenas um retrato do momento em que vivemos e não há nenhuma relação em seu conteúdo. Trata-se de “Oxigênio (Corona Disco)”, do Froid.
Bom, para começar, vamos direto ao ponto: como já disse ali em cima, achei o título de um mal gosto tremendo e, apesar de não possuir relação temática direta com o vírus, ele não deixa de ser ruim. Por falar em tema, o projeto não possui nenhum em especifico, o artista aborda diversos (e quando eu falo diversos são muitos mesmo), chegando a ser prolixo e a divagar muito entre os assuntos onde a track começa em um e, quando o ouvinte se dá conta, Froid está em outro totalmente oposto, tudo ainda na mesma faixa. Tive grandes dificuldades de acompanhar esses raciocínios nas primeiras ouvidas em faixas como “Sem Teto”, onde o MC inicia com um braggadocio bem típico, alternando com apelos ao naturalismo já característicos de trabalhos anteriores, e, logo mais à frente, já está mandando indiretas pra cena. Esse problema nos acompanha por todos os 32 minutos de execução.
Apesar das divagações do Sr. Renato o disco é audível e me surpreendeu no quesito “ouvido pra beat”. Das 10 faixas, somente três não são produzidas por Froid, no geral elas possuem uma estrutura boa e progressões interessantes que, não obstante estarem alinhadas com o que se produz em massa no mainstream e que já cansamos de ouvir, conseguem não entediar. Em certos pontos do projeto chegam a expor uma versatilidade como produtor do MC de Brasília, que, infelizmente, não é acompanhada na entrega, que é repetida à exaustação não só nesse disco como também no seu antecessor “Teoria do Ciclo da Água”.
Já sobre a estrutura do disco, Froid acertou errando. Com um parâmetro de subidas e descidas (formato em “W”) onde começamos, após a Intro (que na verdade é a única que tem relação com a quarentena), com a track “Best Friend” que se vale por um sample classudo de jazz na produção e rimas bem contundentes (apesar de nada coesas, como já disse mais acima) onde o MC faz um “statement” do projeto. Essa é seguida por uma já gasta fórmula de Froid + Cynthia Luz em “Inverno” com o refrão feito pela cantora e o dono do EP a acompanhando entre as pontes, veja bem, não digo que a track não é bem feita, que na verdade é e até meio chiclete no refrão, porém, é uma formula já exaurida e repetida há pelo menos 3 anos. Além da já citada, as participações do disco contam com Rincon Sapiência, Hot e Oreia, Clara Lima e os colabores de longa data Santzu e Sampa. Inclusive, o som com a Clara, “Mundo Mal”, tem o melhor verso do disco, que não é do dono do track, que, por sua vez, tem seu pior desempenho na mesma faixa, deixando a barra muito baixa para a rapper mineira superar com facilidade.
Preciso abrir um parágrafo exclusivo pra isso:
Desculpa, seu Edson, nós nunca se viu
Mas é claro, eu vou ser um bom pai, sua filha me ama demais
Desculpa, seu Edson, nós nunca se viu
Mas é claro, eu vou ser um bom pai, sua filha me ama demais.
Froid fez uma fuckin paródia de “Ms. Jackson” da imortal e lendária dupla de Atlanta Outkast, e o resultado foi bom. A ideia foi bem executada e a faixa garante uma bem vinda quebrada no ritmo do disco. Já que o mesmo não possui coesão nenhuma entre si, ela serve para dar uma respirada e renovada no ar. Dela em diante, é possível voltar a prestar atenção nas rimas e se reconectar com o projeto. Como disse mais acima, o delivery não é o forte do MC e muito menos a versatilidade de performance, entretanto, a forma de escrita e as linhas exploradas chamam atenção. De fato deve existir uma certa ordem e criatividade no caos, já que ora há linhas sobre carros, ora sobre caule e Macaulay Culkin (que eu achei que de tão ruim, deu a volta e ficou boa).
Em suma, o disco é superior tanto na produção quanto em entretenimento com relação ao projeto anterior e também ao que se esperava deste. Froid, apesar das falhas na entrega e na estrutura, não peca na estética e “Oxigênio (Corona Disco)” chega a ser bom de ouvir, apesar do (novamente) título horroroso, sendo um EP que se aproveita de uma baixa expectativa acumulada por sequências passadas, para entregar algo acima desse esperado. Até que vale o play.