Ascencio aqui. Sidoka não para. “Merci” foi lançado no início do ano, em fevereiro, sucedendo Doka Language após um intervalo considerado até que grande para sua carreira, dois meses depois, “Futuruz” viria à público e agora, novamente, temos mais um novo lançamento do trapper. “Manda Esperar” é seu terceiro projeto apenas no primeiro semestre de 2020, fora singles. A praticidade de sua arte aliada aos bons índices de views e streamings têm sido motivo de glórias por parte do MC e de seus fãs. Até a data de lançamento desta crítica, a receita parece estar funcionando e a sua mais nova – assim chamada pelo próprio – mixtape, com menos de uma semana, já faz números expressivos.
Antes, é necessário um aviso: existem grandes chances deste texto soar repetitivo em relação aos outros que analisaram os projetos do artista. No entanto, nada mais justo e adequado que isso, afinal, Sidoka não parece tão preocupado assim em inovar também.
Salvo engano, “Manda Esperar” é a mais curta compilação já lançada em sua carreira. São cinco faixas, pouco mais de quinze minutos e muito mais do mesmo. A primeira track, e também a única que credita devidamente um produtor, é a faixa título. DJ Coala, beatmaker e produtor nacional, contribui com um instrumental de elementos exaustivamente repetidos em projetos anteriores do MC: melodias com cordas e sopro (que dá ares orientais) e 808s batendo nos kicks. Como se não bastasse apenas manter a mesma estética de produção de projetos passados, o trapper mostra não ter problemas em repetir a fórmula dentro do mesmo trabalho, é o caso de “Sensatez”, de sonoridade idêntica à primeira faixa. São poucos minutos de audição, difícil não se incomodar com repetições tão escancaradas.
A produção pode soar minimamente interessante, mas nunca deixará de ser genérica. É o caso de “Deixa Arder” com seu instrumental incluso no pacote “Free Type Beat de Youtube”, que começa desde a segunda track. O nome por trás do instrumental é o do gringo Gibbo Beats, produtor que chega a vender licenças de uso de seu material (às vezes restringe para dez mil unidades, apenas) pela bagatela de trinta trumps. A banalidade com que Doka trata suas produções não condiz com o seu tamanho na cena, pelo contrário, o diminui em direção ao amadorismo, além de não incentivar os próprios produtores nacionais que, com certeza, entregariam algo de melhor qualidade. Do lado do trapper, assim como fez em Merci, Sidoka demonstra ter capacidade de estragar qualquer vislumbre positivo que os primeiros segundos de beat entregam. O que aguarda o ouvinte é um refrão com uma das piores dicções vistas em sua carreira, junto a um flow enjoativo que não se aproxima em momento algum de funcionar. No versos, o MC volta ao padrão e chega a quase ser compreensível, porém, as linhas se alongam para um flow cansativo e sem variações relevantes.
Refém de sua própria fórmula, a maior parte do projeto não trás algo novo em qualquer sentido com relação aos seus antecessores. Adlibs característicos, mesmo padrão de flows, que, quando variam, seguem receitas conhecidas como pronúncias de palavras de forma mais pausada, e até mesmo mais entendível, ou picos agudos e rápidos no início das linhas que depois caem em alongamentos; uma entrega de estética veloz, embolada em autotune e despreocupada, letras rasas que nunca foram o foco de dedicação do MC, refrões longos que se repetem até ultrapassar a validade e por aí vai.
Apesar disso, duas tracks trazem como proposta uma tentativa mudança. “Não se esqueça” é, nas palavras do próprio Sidoka, uma resposta às críticas sobre ele “soar igual em toda faixa”. De fato o instrumental não reitera o padrão usado por Doka, é mais bounce do que se acostumou a ouvir. Mas, apesar de não soar igual a ele mesmo, possui semelhanças gritantes ao hit “Kenny G” de Matue, outro adepto de type beats. Contudo, pela primeira vez, as mudanças de flows são interessantes, ocorrem em sincronia ao surgimento de novos elementos do instrumental com um bom drop na virada da ponte pro segundo verso.
O que verdadeiramente pode apontar para uma possível mudança futura na forma como o trapper entrega sua arte está em “Eu só volto tarde”, última das tracks. Sidoka desacelera seu ritmo, sua voz é entendível, os flows se prolongam precisamente quando o beat pede por isso e pausam em pontos onde se faz interessante o recurso. Performance e instrumental, com 808 retornando de forma presente e forte, fazem sentido juntos e a atmosfera entrega um bom encerramento.
Das cinco faixas de “Manda Esperar” uma é boa, outra mediana e três abaixo disso. O saldo final não é positivo para alguém com o nome e alcance de Sidoka, refletindo o completo esvaziamento de sua arte, focada em entregar apenas uma estética que há muito, dentre tantos lançamentos em tão pouco tempo, perdeu o seu valor quando deixou de ser inovadora. Resta esperar que o trapper só volte tarde de fato e traga com ele esse resquício de inovação que deu a entender.