Oi gente, Go aqui de novo, fazia um tempo que não trazia uma review pra vocês né? Estava trabalhando pesado com as artes do site e, para minha volta, resolvi escrever minha primeira review internacional.
HOUSE, lançado em 24 de julho de 2020 (dois anos após o último grande projeto do MC, Drogas Wave, de 2018), é um EP colaborativo de Lupe Fiasco com o produtor Kaelin Ellis. Além disso, traz em sua lista de feats o designer de roupas mais comentado dos últimos anos, Virgil Abloh e também Crystal Torres e Graham Burris. O EP se destaca pela sua produção, onde Kaelin Ellis te coloca em uma atmosfera lo-fi, usando muito bem o piano e a bateria para ditar o ritmo, enquanto Lupe Fiasco performa um repertório de flows bem diverso pelos ótimos instrumentais do produtor. Diferente do que estamos acostumados a ver em seus trabalhos anteriores, aqui não encontramos um conceito fechado, muito pelo contrário, o conceito se perde durante o projeto, o que sugere ser mais um aglomerado de ideias pessoais dispostas em meio a diversos interlúdios, mesmo que de certa forma essas ideias possam ter certa conexão.
Inicialmente temos a faixa “HOMME MADE”, onde Virgil Abloh comanda com diversos questionamentos existencialistas, em meio a algumas metáforas sobre o que de fato seria uma casa para cada pessoa. Soa interessante principalmente pela maneira como ele traz a história da arte para seus pensamentos durante quase 2 minutos de fala, tempo este em que facilmente conseguimos criar um link direto com a capa do EP.
But an easier question than that is to ask yourself
Where we sit in the sea of art history
Like, that’s tangible, that’s man-made
Man-made art, so the history of it, we fit in
Another like, sort of framework to dwell on is, like, where do we live?
You know, you live in a house
I guarantee the house that you grew up in is what you define as a house
But, for someone that grew up on the opposite side of the world
What they grew up in, they think of as a house
A kitchen, a living room, a roof, a door, etcetera
A próxima é “DINOSAURS”. Enquanto o primeiro som nos faz acreditar que temos todo um conceito já entendido, essa faixa, inicialmente, nos afasta desta linha de pensamento e, no entanto, é no seu percurso onde se torna mais claro o que diversas rimas sobre dinossauros querem dizer. É destacável como Kaelin Ellis, com suas ótimas produções, eleva o nível da track, principalmente com o uso do piano. Porém, Lupe Fiasco deixa a desejar no quesito rima, por mais que tecnicamente ele flua muito bem pela produção. Ainda nessa mesma track, vamos encontrar citações a Jurassic Park, Transformers, Mario e até Família Dinossauro entre especulações do próprio MC acerca de assuntos como reptilianos (?). Comentei antes sobre o conceito ir ficando mais claro durante a faixa, e isso é mais nítido com os seguintes versos:
I ain’t tryna blame, I’m just saying
Sometimes they go by they science names
Megalosauroidea or Sauropodomorpha, whatever you wanna call ‘em
Whether it be Grimlock, Yoshi or Earl Sinclair
Just remember at one time, this whole world was theirs
Por mais que a narrativa da música se perca em questionamentos conspiratórios do MC, temos de concordar que a Terra também já foi a casa dos dinossauros, não é mesmo?
A terceira faixa se chama “SLEDOM” e tem a participação de Crystal Torres e Graham Burris. Os dois feats abrilhantam com suas vozes somadas a uma ótima produção musical. Embora Lupe não entregue grandes rimas, ainda assim mantém um nível técnico no mínimo OK. No entanto, nesta track, em definitivo, o MC foge do conceito proposto até o momento.
Seguimos em “SHOES”, com mais uma participação de Virgil Abloh. A faixa possui uma única problemática: em quase sete minutos, temos quatro versos onde Lupe entrega uma performance acima do nível do resto do EP, porém, são interrompidas por diversos interlúdios de Virgil que, sonoramente, tornam a experiência musical incômoda. Mesmo que estes interlúdios sobre o desenvolvimento de uma nova linha de tênis tenham seu encaixe com a temática de Lupe, em uma narrativa de um hypebeast esperando um novo lançamento de tênis, o encaixe e a progressão deixaram a desejar para uma track de muito potencial onde MC apresenta boas rimas:
With touching signs of equality to match
White kid at the front let me go first cause I was black
Said it was only right
He was used to having head starts his entire life
Maybe it was time to step aside like trilobites
Touching, I never forget it like riding bikes
I get applause as I step outside the pop-up
The shop resembles the unfinished house he was in before they shot us
We fell down, then we got up
Picked Pac up, picked Nip up
This is the type of tripping that scuff kicks up
Traditionally creases was a style to refuse
But now they represent every mile in your shoes
Any mud on your sole gets toweled and removed
Chegamos à última, com nome de “LF95”. Nela novamente vemos um ótimo trabalho do produtor, que rouba a cena se utilizando de sintetizadores e bateria. Passando pela temática do corona vírus, Lupe Fiasco apresenta entrega e lírica muito boas, fazendo desta track o ponto alto de projeto, antes que os mais de 40 segundos de instrumental solo no fim da track nos coloque na mesma atmosfera lo-fi do início do EP.
“HOUSE” aparenta ter um conceito bem definido como o esperado, tendo em vista os outros trabalhos do rapper. Contudo, se perde dentro de uma provável falta de organização de ideias e construção narrativa e algumas péssimas decisões no uso de interlúdios também pesam negativamente para um veredito final. Seus instrumentais são, sem dúvidas, o que de melhor ouvimos nesse projeto, sugerindo novas colaborações entre MC e produtor. Vemos Lupe Fiasco apresentando boas performances no quesito flow, mas deixando a desejar em rimas. Bem, “HOUSE” não é ruim, o EP tem bons momentos em diversos aspectos, porém desliza em pontos cruciais, o que faz do mesmo apenas um projeto mediano.