Review: BIN – Para Todas Garotas Que Já Rimei

Salve só para quem faz tweet reclamando do calor! Dourado aqui, mais uma vez, para falar do prato cheio que é o rap nacional. Carioca com uns bons anos de cena, Bin assinou com a Papatunes e passou a trampar com a Mainstreet (Gravadora do Orochi) no final do ano passado. Com o contrato, deixou a Garage Gan e o vulgo iambinhu. De brinde, alinhou seu foco com o de Orochi, mirando em extrapolar a barreira do público de trap, abordando mais amor & sexo e soando mais agradável para quem vem de outros gêneros.

 

 

Lançado dia 29 de Setembro, o álbum de estreia de Bin leva o nome “Para Todas as Mulheres Que eu já Rimei”, o que explica muita coisa. É predominantemente um conjunto de lovesongs, tendo como exceção a última faixa, “Mira Laser”. Ao longo de nove músicas, o MC divide faixas com 9 artistas diferentes (sendo um desses MãoLee, que leva créditos de feat por alguma razão). Todos os 9 feats são homens, ilustrando que ele dedica o projeto para todas as mulheres que já rimou e o divide com todos os homens que ainda ama. Todas as faixas foram lançadas com clipe,  o que salva um pouco da monotonia de certas participações.

A divisão é muito bem feita matematicamente, mas tematicamente não tem divisão. São oito faixas sobre amor e no final jogaram Mira Laser só para fechar a conta. De nove músicas, três são ótimas, o que é uma proporção agradável. Pena que o resto (com exceção de uma, no máximo, boa) é de descartável para baixo. Em relação às participações, a conta pega mal. Nove feats, dois bons e ainda assim com ressalvas. Vamos explorar isso:

“Marta 10”, “Marilia Mendonça” e “Mira Laser” fazem a trifecta que salva o projeto (mostrando assim o conforto do rapper ao rimar em músicas com a inicial M). “Culpa do Álcool” é a faixa boa, nos moldes de poesia acústica, inclusive tendo sido lançada ainda em julho sob a Pineapple. É bem feita mas tem como público-alvo o ouvinte de fora ou um ouvinte de rap mais casual. É trabalhada num beat mais singelo, envolto no violão. Carregado de frases para status do zap ou para tweets estilo “Citei Bin”. Dentro da proposta, ganha um 10 redondíssimo.

A ‘santíssima trindade’ do disco é destoante do resto por ter identidade. “Marta 10” tem um refrão marcante, brinca com uma onomatopeia, é a cara da nova versão de Bin, que é romântico mas ainda tira aquela onda. O verso inicial de PL Quest vem mais lento do que a música aguenta, mas não chega a estragar a obra. “Marilia Mendonça”, que já havia sido lançada como single, é hit puro, agrada públicos extra-rap sem se tornar estranho pra quem é do meio. “Mira Laser” é a cara do Bin. Para quem é fã de trap e não conhece o artista, é a música ideal. O refrão é bem escrito, mostra logo dois flows e três vozes, fora o bom verso. A cada audição dessa track fica claro que Bin está numa crescente constante. O problema é que ela não tem nada a ver com o tema romântico do disco, mesmo que isso não a impeça de ser melhor que pelo menos metade das outras músicas. Bom, nada garante que ele não rimou isso pra uma mulher né…

O resto é difícil de defender. Entre linhas vergonhosas pra lá e pra cá, melodias quase idênticas em “Fim de Nós 2” e “Culpa do Álcool”, o que salta os olhos é a surpresa ao notar as participações tão descartáveis quanto a maioria das tracks. Algumas participações, trazem destaque, negativamente. Quando, por exemplo, MD Chefe entra num combate incessante contra o tempo do beat, é impossível passar batido. Para boas participações temos MãoLee – que foi apenas uma produção – e Borges, que traz alguns extremos pra mesa.

As faixas 1, 3, 4, 6 sofrem todas do mesmo problema: participações fracas. L7nnon mata o clima da cheia de potencial “Quase uma semana”. Como já mencionado MD Chefe desencontra completamente a “Ferveção”. “Covardia” não chega a ser ruim, mas as duas participações são completamente descartáveis. Não há nada de memorável na presença de Ryan RealCria ou de MC Maneirinho (exceto o fato de ser o MC Maneirinho). Azevedo faz com que “Fim de nós 2” perca uns pontinhos, numa das músicas que já não tinha nada a se destacar. O verso dele dá uma preguiça tremenda e prolonga demais uma música que já era desinteressante.

Do lado positivo, MãoLee faz um beat simplesmente sedutor para “Marilia Mendonça”, é um abraço que te sintoniza com a música e te mantém envolvido na ótima melodia de Bin. Borges por sua vez, faz um verso de alto nível. Atentando-se às críticas recentes, o rapper troca de flow, de temática, até mesmo o estilo de entrega, fugindo do que estamos acostumados a ouvir dele. Mostra-se mais completo do que alguns o viam. Aborda temas não tão vistos em lovesongs e aumenta o nível da música (mas quando ‘rima’ “lean” com “whisky” é fisicamente doloroso).

O elefante na sala é “Só Ela”. Como algumas músicas dele já tiverem seus remix em 150bpm, imagino que essa tenha sido composta mirando isso. Num beat de trap, com a voz de Bin e Maquiny, essa fica extremamente desagradável. É uma tradição do rap nacional não saber falar de sexo. É simplesmente ruim. Desgostoso. Dá agonia. Não dá pra ouvir até o final sem torcer o nariz. 

Só ela sabe fazer minha vara crescer
De um jeito gostoso, eu sempre quero mais
Vê se não para, bae, de subir e descer
Senão tua amiga vem por você e faz

Num geral, um álbum de grandes proporções e produções. O que é bom é ótimo. O que é ruim é sofrido. As produções são impecáveis, apostando em instrumentos de corda ao fundo de quase todas. Os beats também apresentam ótimas viradas, a maioria, principalmente em “Covardia”. Esse entra para o grande rol de projetos carregados pelas produções,  no passado recente do rap no Brasil. 

Como artista em ascensão e de grande projeção, com direito à rádio, Bin precisa de fato criar sua identidade, sendo necessário massacrar certas teclas de tanto bater nelas. Por isso é justificada a “forçação” de barra com o romance e faixas tão semelhantes, como são “Fim de Nós 2” e “Culpa do Álcool”. Mas ser justificada não torna menos incômoda. Apesar de serem em grande parte ruins, as participações muitas vezes se explicam como uma forma de respaldo para um artista que vem crescendo, trabalhando com artistas mais renomados. Mas para quem participou de uma das melhores faixas do álbum do Orochi, é difícil saber o que um Maquiny ou PL Quest têm a acrescentar nesse trabalho.

Tal como no álbum do grande homem da Mainstreet, a crítica se confronta com a intenção. Artistas desse estilo não fazem álbuns para serem ouvidos de cabo a rabo; é para extrair três ou quatro músicas e manter hits, assim mantendo o rapper por meses. Nisso está muito é certo. Infelizmente, a Rap Sh!t não é uma grande rádio que vai avaliar isso, é um site de crítica, e nesse quesito o sucesso de “Para Todas Garotas Que Rimei” fica tímido. 

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