Review: Skepta – All In [EP]

Um projeto bem mais modesto quando comparado a seus últimos trabalhos.

Skepta é provavelmente o nome que mais inspirou essa geração de MCs brasileiros que vêm se aventurando pelo grime/drill. O impacto é notável, em grande parte de entrevistas dadas por esses artistas, o rapper britânico é citado como referência para o despertar desse interesse pelos gêneros. Um ano após o lançamento de Insomnia, projeto colaborativo no qual figurou juntamente com Chip e Young Adz, o mc londrino responsável pelo maravilhoso Konnichiwa dropou seu mais novo trabalho, o EP de cinco faixas chamado All In, um projeto bem mais modesto quando comparado a seus últimos trabalhos, que ficam entre 12 a 13 faixas.

‘Bellator’ é a faixa que abre o projeto já de maneira bastante intensa, em um verdadeiro banger Skepta tem umas de suas melhores performances nesse curto projeto. Apesar do beat bastante “reto” com um loop de sintetizador ao fundo que, com o tempo, causa até a sensação de ser muito repetitivo, o MC entrega um refrão de bastante impacto que aumenta em doses consideráveis o replay value da track:

This is for my brothers in the grave and my dargs on the wing (Free ‘em)

Disrespect my niggas, that’s a cardinal sin (Huh?)

Walk into the club, I might be dancin’ with your ting (Sexy)

I’ma slam dunk it, put my arm in the ring (Slam)

Catch a nigga slippin’, gettin’ trippy in the store (Huh?)

I’ma Pop Smoke him, I’ma do it in Dior (Bo)

Michael Venom Page him, I’ma do it Bellator (Greaze)

Used to run his mouth, now he can’t do that anymore (Ha)

Em ‘Peace of Mind’ temos três participações: Teeze, Kid Cudi e o grande problema do EP. Aparentemente Skepta não sabe para aonde exatamente quer ir com suas tracks, não há um direcionamento de intensidade e sonoridade, tudo soa meio que aleatório (e isso se repete até o final). No entanto, mesmo com esse empecilho, o conceito geral  ao mesmo da faixa específica não é ruim, Skepta e Cudi entregam bons versos e o resultado final é positivo em um beat bem construído que faz com que até o refrão, ponto mais fraco da música, passe despercebido.

O modo de aleatoriedade sonora continua em ‘Nirvana’, com colaboração de J Balvin. A track dessa vez vem com uma sonoridade caribenha repleta de instrumentos de corda e, se o problema de falta de direção começou na faixa passada, aqui ele é escancarado por conta dessa opção um tanto quanto caricata para o segmento musical. As performances não são ruins, mesmo arriscando rimas em espanhol, o mc de Tottenham vai bem e seu convidado também apresenta um bom desempenho, a participação deste, no entanto, soa muito mais como uma questão puramente comercial do que de fato uma opção técnica para o EP.

‘Lit Like This’ é uma faixa que passa despercebida dentro do projeto, a mudança drástica de direção faz com que uma track fique muito deslocada dentro da confusa tracklist do EP. Para o encerramento, Skepta traz ‘Eyes on Me’, boa faixa de flow acelerado, explosivo e muito contagiante, uma produção bastante ritmada guiada por boas linhas de bateria que chamam a atenção. A estética sonora da track, indo ao drill, é claramente a zona de conforto do MC que não decepciona para o encerramento, fazendo com seja a melhor produção do projeto.

De uma maneira geral, nenhuma das 5 faixas do EP é ruim, porém como projeto fechado não funcionam por não partilharem de laços para se justificarem em um projeto fechado. Realmente soam como um amontoado de músicas que não se encaixariam em nada maior (como um álbum) e acabaram por se contentarem em algo menor. Enquanto MC e performer, Skepta não abaixa a barra, seus flows fortes e rimas continuam em um ótimo nível.

Apesar disso, este problema de direção musical faz com que All In deixe a desejar como um conjunto. Se em ‘Ignorance Is Bliss’ o MC já flertou com outras sonoridades, aqui ele deixa a coesão totalmente de lado em prol de ares mais ecléticos, e em algo tão curto é difícil amarrar bem essas diferenças. Quando Skepta estiver pronto para voltar a lançar um álbum completo, será melhor para o trabalho receba mais foco em sua construção sonora, o que já o rendeu bons frutos no passado e cuja ausência limita o potencial do EP em questão, que se faz valer apenas pela qualidade individual de cada track.

 

Melhores Faixas: Bellator e Eyes on Me.

 

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