NA AGULHA #02: Reviews saindo do forno direto pro seu ouvido

Se você sentiu falta de alguma coisa, pode ficar tranquilo, ela ainda vai aparecer aqui no site.

O rap não para nunca e a dificuldade é, às vezes, conseguir acompanhar. Então voltamos com mais algumas mini-reviews na segunda edição do Na Agulha pra você se ligar em tudo que precisa ouvir na nossa música. Tem Davzera, Filosofino, Marcola Bituca, Rap Plus Size e até um disco internacional da lenda KRS-One.

E se você sentiu falta de alguma coisa, pode ficar tranquilo, ela ainda vai aparecer aqui no site.

Davzera – Cozinha Marginal

Por Gustavo Oliveira

Alguns artistas do rap nacional ocupam um lugar muito particular dentro da cena: serem poderosas vozes com seus trabalhos e terem suas imagens totalmente vinculadas a suas músicas. Esse é o caso de Davzera, que em seu mais recente disco, Cozinha Marginal, apresenta seus universos inventivos e abstratos. Apesar de ir contra a ideia de que “alguns trabalhos não são para todo mundo”, ouvir Davzera é uma tarefa desafiadora (por ótimos motivos) que esconde belas surpresas.

Davi tem total noção do esqueleto e da montagem de seu álbum. A tracklist é um encaixe de engrenagens que atuam no funcionamento dessa máquina. Iniciando com “Maratona”, o MC relata um panorama mental, mesclando sinapses materiais referenciando o cotidiano urbano e a criação artística. E assim ele define o ritmo e a atmosfera com que as histórias serão contadas. Conseguindo manter sua pegada mais introspectiva, mas ainda sim relacionar e versar sobre diferentes frentes.

Outro ponto altíssimo de “Cozinha Marginal”, além de sua coesão temática, é sua coesão rítmica. Os diferentes produtores que trabalham aqui conseguem entregar as similaridades necessárias para a boa audição do disco. Mas sem deixar de lado suas identidades, apostando em baterias mais secas e bpms mais arrastados. O foco são sempre as construções líricas de Davzera, mas os beats fazem um espetáculo à parte. O maior destaque com certeza fica com “Orixá de Cabeça”, uma produção muito classuda do Eric Beatz.

“Cozinha Marginal” é mais uma apresentação sólida e cheia de méritos de um dos melhores MC’s que surgiram nos recentes movimentos do rap nacional. Um grito, que já passou da hora de ser ouvido fora das caixas do underground.

Marcola Bituca – Galo, A Ciência do Tambor

Por Gabriel Z

Marcola Bituca está, com toda certeza, em um momento muito prolífico de sua carreira. Em menos de 2 anos foram 3 trabalhos. Os elogiados Os Últimos filhos de Sião (álbum) e Cavalo De Tróia (EP), e, agora, o instigante Galo, A Ciência do Tambor. Este é o seu trabalho mais plástico até agora, começando da capa até o apelo musical.

A capa, então, é o elefante branco na sala: chama atenção por si só e retoma tradições artísticas pouco rotineiras nos dias de hoje, causando surpresa na proximidade entre os elementos que buscam o divino junto do falocentrismo evidente (literalmente, com o falo ao centro) e o busto, longe de ser apolíneo, muito mais real. Essa espécie de dualidade entre um divino vindo das matrizes africanas, trazendo diversas referências fora de um lugar comum, como yorubás e egípcias, e o cotidiano ganha força e forma. Agora, Marcola traz seus comentários políticos muito mais a dianteira e a mostra, indo desde o macro, como na primeira faixa, quanto ao micro em Santa Maria.

A produção consegue colocar a dualidade em sua execução também, misturando elementos ora muito vivos e alegres, ora mais soturnos e graves. O auge do álbum fica logo ao início, que consegue uma boa sequência de faixas até “Pacha Mama e o Deus Sol”, faixa que mais se destaca no álbum com seu refrão marcante e embalante.

Apesar das intempéries que o álbum sofreu ao ser lançado antes da hora devido a um erro ou vazamento – coisa que com certeza impactou negativamente sua distribuição e conhecimento pelo público -, Galo, A Ciência do Tambor é um disco quente, bem planejado e bem executado, trazendo mais uma vez Marcola Bituca como uma das pessoas mais criativas do cenário do hip hop nacional.

Rap Plus Size – Revoada

Por Ravi Freitas

Sem deixar de lado o protesto inerente nas suas vozes, Revoada é um direcionamento que quebra padrões antes estabelecidos para a música da dupla formada por Jupi77er e Sara Donato. A união com a uzzn gerou um disco dançante e divertido, mas sem perder a essência que ajudou a cimentar o grupo como um dos mais relevantes da cena.

E já que estamos falando de instrumental, as influências do trap, do funk e do dancehall em algumas das faixas (com destaque para “Xgg” e “Se Organizar Direito”) traz uma nova sonoridade pra dupla, junto de uma liberdade maior pros flows e pra lírica, incluindo na forma como as participações aparecem no disco (como as ótimas participações de Rentz e Doralyce).

Em seu projeto mais livre e animado até agora, o Rap Plus Size se mostra cada vez mais disposto a invadir com força o mainstream. A dupla não esquece de onde vieram, mas também não escondem aonde querem chegar: no topo.

Filosofino – Espaço Justo 2º Ato

Por Ravi Freitas

Entre uma ode à ancestralidade e uma reflexão sobre o futuro, está a música revitalizante do MC paraibano Filosofino. A lírica potente em Espaço Justo 2º ato é provocadora, carismática e cheia de conteúdo. Suas letras passam por religião de matrizes africanas, luta anti-racista e ideais anticapitalistas, que são bases da sua caneta: tudo sem soar um MC pregador, ainda que ele esteja sim, com o perdão do trocadilho, filosofando.

As influências líricas de Fino também são refletidas no seu flow, mais clássicos do hip-hop, e principalmente nos beats, feitos em parceria com o DJ Big Jesi. Assim como o que escreve é um retalho afro-futurista cyberpunk, as melodias elevam as raízes musicais da música negra e se misturam com o experimentalismo em alguns momentos, como na faixa “O Amor É Perigoso”, faixa toda declamada que divide o álbum em dois.

Filosofino, apesar da carga de resistência que sua música carrega, é mais que isso. É um artista completo que mostra no seu projeto mais recente mais do que potencial: sua música já é o agora, só falta o eixo perceber.

KRS-ONE – I M A M C R U 1 2

Por Redação Inverso

“Eu sou um MC, você também é?” é a tradução do título do novo álbum do lendário novaiorquino KRS-ONE, que pode ser carinhosamente apelidado de “Amiri gringo”. O pioneiro do rap traz ao máximo a cultura de MC de batalha nesse novo projeto, sem deixar a desejar.

Do começo ao fim, o MC apresenta as barras mais inteligentes e bem pensadas que você provavelmente vai ouvir em algum tempo. O que pode atrapalhar a experiência, infelizmente, é uma possível barreira linguística e/ou cultural, já que a maioria dos versos conta com jogos de palavras e referências histórico-regionais. Apesar da genialidade na letra, o disco peca pela repetição a partir da segunda metade da tracklist.

A Inverso é um coletivo dedicado a cultura Hip Hop e o seu lugar para ir além do comum.