Review: Duzz – Aquecendo A Nave” [EP]

Salve, Go aqui novamente! “Aquecendo a Nave” é o quinto EP do Duzz, que segundo o próprio MC funciona como uma prévia do seu próximo álbum “Além dos Satélites: Missão Renova” que está previsto para sair em 2021 com nada menos do que 31 faixas. É importante ressaltar que “Aquecendo a Nave” é um projeto colaborativo com o produtor LR Beats, muito conhecido por seu ótimo trabalho, já tendo assinado tracks de grandes nomes do rap nacional, como Nill, Terra Preta e Edi Rock; seu último grande trabalho foi o EP “Prólogo” do rapper mineiro Zemaru.

Antes desse EP o último trabalho lançado por Duzz tinha sido o single “Patricia” onde o MC escreveu (por incrível que pareça) uma diss para uma TIK TOKER, e o mais impressionante disso tudo foi essa track ter já ter, até a publicação deste texto, 4,5 milhões de views.

A proposta em “Aquecendo a Nave” é bem clara: Abrir os caminhos para seu próximo grande projeto, sendo clara a referência entre os nomes do EP e do futuro álbum. O trabalho começa com “Metamorfose Avalanche”, faixa que saiu acompanhada de um clipe onde o MC está fantasiado do icônico vilão da DC, o CORINGA. Duzz tentou fazer um link entre sua suposta versatilidade musical e suas vivências com as várias facetas da mente do personagem que claramente apresenta transtornos psicológicos graves, mas no comparativo teve um resultado bem cringe pela falta de sensibilidade com o próprio transtorno. A track tem seu destaque em sua produção, feita por LR Beats e Ecologyc, com Duzz entregando um bom refrão (apenas isso), que é bem conduzido por conta de um drop muito bem encaixado no beat. No resto vemos temáticas padrão do trap brasileiro: degustação de drogas (Como o próprio MC fala), diversas rimas com palavras soltas ao vento, referência a alguma marca luxuosa e, claro, rimas em inglês, nada diferente do que já ouvimos diariamente.

A segunda canção, “De Volta pro Futuro” é realmente surpreendente, um boombap muito bem feito que conta as participações de Abayomi e OkGucciBoy e com os maravilhosos scratches do DJ Jamal. Todos os três MCs apresentam bons versos, com destaque maior para Abayomi:

E quanto mais o tempo passa

Menos tenho a perder

E quanto mais dinheiro falta

Mais eu quero fazer

Mulher, respeito e poder

O quê que eu posso dizer?

Nós já nascemos no problema

E o que nos resta é vencer

Logo após o fim deste verso, o primeiro, os scratches entram e abrilhantam a track, dando a lembrança daquele bom e velho sentimento de ouvir um belo boombap de vila tocando no fone. Duzz performa bem no segundo verso, entrega boas rimas e isso nos faz questionar o porquê do MC não explorar mais essa sonoridade que, pelo menos aqui, ele mostra ter bastante segurança em rimar.

A terceira track dá o nome ao EP e voltamos ao trap. Duzz até tenta fugir das narrativas padrão que fizeram com o que o subgênero ficasse conhecido, mas a performance vai pelo ralo com uma sequência infinita de rimas extremamente preguiçosas por parte do MC, com todas as linhas finalizadas em ÃO, entregando quase 30 segundos de “ÃO ÃO ÃO ÃO”:

Que horas são? Que horas são?

Tic, tac, o coração

Aflição, sua mão

Queremos a salvação

Podridão, gratidão

Venho da escuridão

Onde não tem perdão

Valemos nosso cifrão[…]

Se nas rimas não temos nada de positivo a citar, a produção continua mantendo seu alto nível. Ouso dizer que essa é uma infeliz característica do trap nacional, onde os produtores tem carregado a cena nas costas nos últimos tempos. Se voltarmos nas últimas quatro reviews de trap nacional deste próprio site (“Traplist” do Jovem Dex, “Em Transe” do KK, “Condessa” da Ebony e 237 Deluxe” do Yunk Vino), todas tiveram suas maiores notas parciais no quesito ‘produção’ – o que se mantém neste trabalho – com ‘performance’ e ‘originalidade’ sendo os pontos onde mais surgiram ressalvas negativas dentro dos textos e consequentemente piores avaliações, com apenas Ebony tendo igualado os níveis de produção e performance.

“Silêncio, Turbulência” fecha o EP de maneira mediana, é realmente interessante como Duzz rima por conta da entonação de sua voz, fazendo com que o peso emocional da faixa se crie dentro do beat, a produção, novamente da dupla LR Beats e Ecologyc, é muito bem feita, mas a escrita continua decepcionante como na maior parte do EP.

O quinto EP de Duzz conta com uma produção muito bem elaborada, com LR, que assinou todas as faixas, e Ecologyc, que colaborou em outras duas, merecendo elogios pelo trabalho. Algo maior por parte do MC ainda está por vir (ou não), mas aqui Duzz raramente entrega bons versos, o que não difere do esperado, porém era uma oportunidade para mostrar evolução. Surpreende também que um MC que ficou conhecido pela sua performance no trap tenha tido sua melhor performance rimando em um boombap.

Não podemos dizer que “Aquecendo a Nave” é exatamente o que veremos em “Além dos Satélites”, até mesmo porque em um álbum com 31 faixas tudo pode acontecer, mas para esse primeiro momento não presenciamos nada que fuja do que a grande maioria dos trappers brasileiro vem fazendo nos últimos anos.

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