Antes de sair tacando merda para todo lado, eu preciso me apresentar né? Hoje é minha estreia nesse site e espero não ser crucificado pelas minhas humildes opiniões, meu nome é Gabriel Magalhães, sou engenheiro, designer e escrevo para um projeto pessoal (@selocalle) sobre cultura urbana, e agora faço parte do time de redatores do Rapsh!t, com isso, venho trazer alguns reviews para vocês. Então vamos ao que interessa!
O rapper CHS lançou seu álbum de estreia TPA (Tudo Pode Acontecer), são 12 faixas com participações de BK’, Akira Presidente, Juyé, Torres e SIQ, a direção de produção ficou com o El Lif Beatz e por fim a mixagem e masterização pelo talentosíssimo Arthur Luna.
Um verdadeiro designer de rimas como se auto intitula, CHS mostra muita tranquilidade e qualidade em encaixar suas letras nos beats, qualidade essa que vejo como marca registrada dele, sempre com rimas bem estruturadas e sólidas. TUDO PODE ACONTECER ainda traz um CHS com versatilidade para rimar em diferentes sonoridades que nunca tínhamos visto em seus outros trabalhos, como no último EP: “Chaos” de 2018.
A jornada por TPA começa com a faixa “Tudo Pode Acontecer” e é seguida por “Segunda”, faixa que é o primeiro grande momento do álbum, com a participação de Juyè. Nessa track sinto um amadurecimento em relação à postura de CHS nas suas linhas, as vivências passadas ainda são referências pra suas letras isso é óbvio, referências ao bairro onde cresceu sempre aparecem, mas o momento atual do MC, com a chegada do segundo filho, mostra que o momento é outro e isso ficou bem nítido nesse som.
O álbum continua com a faixa “Sempre” e “Calmaria” que seguem a tendência até então vista. Na quinta faixa temons BK’, chama-se “Me Arrumei” e fica ainda mais nítido o papo sobre amadurecimento. Ambos os MCs fazem um ótimo trabalho no desenvolvimento da música, destaque para as rimas:
“Não tenho posse de armas, mas tenho posse de rimas
Ela te acerta e te abala, mas né projetil é palavra
Quem tem dom sabe usa-la
Melhor que tiro de uzi
Dela eu uso e abuso
Melhor que tiro de bala”
Seguimos nossa trilha com o som “Tambores” que, particularmente, é uma das minhas preferidas do álbum: ancestralidade, vivências e a magia do bairro e religião, elementos que em algum momento todos presenciamos nos projetos dos membros do Néctar Gang. Nesse som, CH faz a união entre métricas e analogias fora da caixa e tudo em uma produção maravilhosa de Victor Henry, de maneira que o simples ato de ir para a próxima música vire uma tarefa um pouco mais complicada do que o normal.
“Nascido e criado na Lapa
Domino a arte das rimas
Um salve pra todos os santo
Eu vejo no altar Zé Pilintra
Eu entro na igreja católica
Eu vejo um monge budista
De branco igual kardecista
As guias igual umbandista”
A próxima é “Signos”, que conta com a participação de SIQ e Torres (Sim, aquele mesmo que em algum momento te fez chorar pensando nela), a faixa conta com uma produção interessante que encaixou muito bem todos elementos, mas o destaque fica para os versos de Torres.
O caminho segue, passamos por “O Que Você Quer?” e chegamos em “Sem Pena, Sem Culpa”, o MC carioca entra muito bem nas batidas, segue um flow bem encaixado em um batida que nunca imaginei que iria ouvir o CHS rimar. Após isso, temos “Infinito Particular” e a a excelente “KGL Ghost Town”, esse som é onde vejo o MC em sua maior zona de conforto no álbum, rimas sobre a área, sujeira da KGL e alguns elementos sonoros (principalmente os últimos 30 segundos) que me lembrou muito alguns detalhes de sons do próprio Néctar, destaque para o verso:
“No rap eu encontrei meu alicerce
Na lapa em cada esquina, eu vi se tornar febre
O sample é o mesmo do Kanye West
No show eu dou a vida, mas eu não sou Daleste”
A jornada que começa com a música que dá o nome ao álbum termina com “Minimalista” e com certeza não podia ter terminado melhor, trazer a simplicidade da excelência da arte em meio a um momento onde vemos que o consumismo tomou conta da cultura hip hop é no mínimo inesperado e interessante, esse ponto de reflexão faz com que o álbum termine de maneira elegante, a produção ficou por conta do duo DKVPZ que foram essências para a classe do som.
Antes de finalizar, preciso falar sobre a capa do álbum a clara referência a “Liquid Swords” do GZA foi desenvolvida por Finha e ficou extremamente interessante o resultado. Termino meu primeiro review de maneira positiva, CHS acertou bastante e, quando errou, suas qualidades como MC tornaram as consequências mínimas, Tudo Pode Acontecer foi um álbum acima de média a todos e acredito que, como foi comigo, deve agradar muita gente.
Até a próxima!