Review: Leozin – Colapso

Ravi aqui. Nos campos de batalha de rima do Brasil diversos talentos se destacam pelas ideias improvisadas, em 2018 Leozin era um dos melhores de São Paulo. Porém, a transição das batalhas para os beats é um obstáculo difícil de ser vencido, e, como quase todo mundo da Batalha da Aldeia, a fórmula do trap foi uma escolha fácil. De lá pra cá Leozin lançou diversos singles e algumas mixtapes, tendo mais destaque as colaborativas com seus ora parceiros, ora adversários de batalha, Thiago e Dudu.

Na sua época de batalha, Leozin era conhecido pelas respostas agressivas e pensamento rápido para ataques, além de não ter medo de levar o embate para o lado pessoal, o que o fez  se envolver em algumas tretas na cena freestyle de SP. Essa ousadia e energia que o MC demonstrava nas rinhas some em “Colapso”, seu novo trabalho, e o rapper se volta às rimas para falar de joias, drogas, mulheres e outros assuntos comuns aos seus contemporâneos do trap. Mas, com ajuda de uma boa levada aqui e acolá (apesar de ainda escondida por um autotune muitas vezes questionável).

Um dos poucos pontos positivos do disco são os beats. Na lista de produtores você vai encontrar todos os nomes esperados em um CD de trap feito em São Paulo, com destaque para NagalliEcologyk e Galdino, que carregam o disco em muitas músicas. Apesar dos nomes de peso e da qualidade acima da média das batidas, nenhuma delas é muito arriscada: hi-hats e 808s característicos aparecem nas suas formas mais esperadas (com direito ao clássico sample de flauta). É essa falta de originalidade não só nas rimas, como também nos beats, que prejudica o disco como um todo.

A primeira metade, por exemplo, passa rápido, sem muitas marcas justamente por não fazer nada diferente do que seus amigos já colocam na praça. Nas faixas, as rimas do MC seguem uma fórmula comum à maioria dos artistas menos criativos do gênero. Seja por ele estar “calmo com Dior no pé”, como ele diz na música que dá nome ao disco, seja por estar contando o número de pessoas que “já apontaram o dedo mas ficam em choque quando tromba minha gangue”, ou ainda por ter “diamantes brilhando por todo o corpo” (rima que finaliza com a extremamente batida referência a Sub-Zero, de Mortal Kombat), nada do que se escuta já não foi dito (e de maneira muito similar) em muitos outros discos. Os beats, que seguem a linha de trap mais calma, popularizada por Future (e que com a ajuda de Drake chegou no mundo todo) poderiam figurar em qualquer outro disco também.

Algo que chama atenção é a última linha do refrão de “Gatilho” (primeira música do disco) e que, ironicamente, é ignorada ao longo do projeto, com suas músicas de título e letras desconexas em inglês (incluindo referência a sizzurp, apelido que rappers americanos deram ao lean, bebida popularizada pelos pioneiros de Atlanta).

Surfando na onda, no beat deslizo

Surfando em waves, os moleque é liso

Eu nem sou vidente mas vejo os meus ricos

Fugindo da blazer é muito haxixe

Só sendo nóis memo, sem copiar gringo 

Entre as diversas referências gringas no disco, drip é uma das favoritas do rapper. Na mesma música em que diz não copiar gringo, o MC rima coisas como “fogo na partydrip nesse jeans / Não me compare bitch, eu sou Leozin”. Em “Podium” as linhas “Liguei o Nagalli, slime shit no beat do Wey / Mais drip pra toda minha gangue, oh shit” são só algumas das tantas palavras aleatórias em inglês. Até referência a “rollie” aparece no disco.

A partir da segunda metade do trabalho, as coisas mudam um pouco e Leozin se arrisca um pouco mais nos flows e consegue surfar em bons beats de Ecologyk, como “Troféu”, que conta com um sample agressivo de violino e um 808 potente, e “Fvck Love” (essa em parceria com Mathinvoker), ao abusar de sintetizadores e graves dançantes criando uma vibe meio cloudrap, meio dancehall. Destino também é uma música que gruda sua atenção tanto pela forma como o pelo flow que o rapper encaixa no beat, apesar de ser difícil ignorar a rima “o dólar caindo” com “três bitches comigo” no refrão.

Na sua lista de featurings, as performances fracas saltam aos olhos como a participação do rapper Duzz, além de mais uma performance decepcionante de um dos artistas mais promissores do trap, Jaya Luck. Assim como o dono da casa, Jaya estourou nas batalhas de rap impressionando com flow e agressividade e, ao se aventurar pelo estúdio, se resume a falar sobre roupas, drogas, dinheiro e mulheres com rimas e flows clichês, como a sequência “Eu já tô há um tempão / É que eu tenho a visão / Tenho dinheiro na mão”. Uma exceção, porém, é “Mamacita”, um dos destaques do disco graças aos convidados da faixa, onde os vocais de VK Mac chamam atenção (com uma distorção tão interessante que faz você ignorar o que ele tá falando) e o ótimo refrão cantado pelo Léo Rocatto que gruda na cabeça.

Em “Low and Lost” e “Último Copo”, alguns lapsos daquele freestyleiro que rimava sobre coisas mais pessoais (e com menos rimas clichês) aparece em meio a rimas sobre amor, drogas e outras coisas. Além dessas pequenas passagens mais reais sobre o rapper, “Último Copo” também conta com um conceito sobre um amor que o levava ao fundo do poço, fazendo comparação com uma mina que gostava de usar droga junto e termina com o MC cantando “não quero esse molly”, representando o relacionamento. Apesar de ser um conceito já explorado por outros rappers, mostra que há no artista a capacidade de encontrar outros lugares criativos para suas linhas.

Como um todo, o disco segue a linha criativa de escrita que Leozin adotou pra si depois que saiu do mundo do freestyle, e que também lhe trouxe sucesso e reconhecimento. Enquanto alguns esperavam um vislumbre do MC com a sede da época das batalhas, esse disco é apenas mais um disco de trap como tantos outros na cena.

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