Salve! JH aqui. Nos últimos anos, FBC foi uma das figuras mais inescapáveis do rap nacional, principalmente se você usa o twitter. Seja com músicas, divulgação de trabalhos ou se envolvendo em alguma polêmica, o artista e seus fãs eram difíceis de se ignorar. Agora, em um de seus momentos mais discretos, o MC volta com seu quarto trabalho ao mesmo tempo que já promete o quinto, tudo isso num espaço de menos de três anos.
Fabrício tem, com “S.C.A”, um clássico em seu cartel, e isso ninguém pode lhe tirar. No entanto, seus passos seguintes foram questionáveis, com seu segundo trabalho, “PADRIM”, tendo uma recepção mista, mostrando falhas claras numa tentativa de alcançar mais grandeza; e o EP “Best Duo”, que foi um trabalho cujo maior feito esteve em apresentar Iza Sabino para um grande público, mesmo que nem ela nem FBC se destacassem no projeto. Longe de vícios que minaram os últimos trabalhos, assim como da busca por hits e feats de maior renome, o artista parece entregar um compilado mais para seus fãs do que para as massas, e, assim, este EP é uma clara volta aos trilhos para o MC.
O EP traz faixas do que era para ser o seu prometido álbum, “União Da Força e Da Fé”, e é clara a manutenção do conceito, com diversas referências à frase ou à sigla UFFÉ ao longo do projeto. Essa união se dá sonoramente através da mistura da força do drill e a religiosidade dos batuques, com o excelente VHOOR entregando beats de classe A para o EP. Surfar na onda do drill não é exatamente a escolha mais diferenciada da cena atualmente, mas a forma com que o produtor mescla as diferentes referências faz com que o projeto soe original e único dentro do que temos por aqui.
Além da excelente escolha de beat, FBC joga com seu outro ponto forte: colocar suas emoções na caneta para escrever histórias de sua vida e de sua área. Vemos uma excelente performance em “Baile De Ladrão”, onde o artista passa a proximidade entre os dois lados da moeda da vida no morro, o crime e o baile. O beat traz claras referências ao funk mineiro do começo da década passada junto das baterias do drill, com sintetizadores proeminentes e um refrão muito contagiante do MC.
O outro destaque da primeira metade do EP é “Levar A Sério”, onde mais uma vez o rapper surfa sobre o beat, que agora usa a corneta por traz da bateria para dar um tom mais introspectivo à track, esta é acompanhada pela performance do MC que mostra vocais mais contidos e uma letra mais aberta, mostrando os medos de Fabrício proporcionados pela condição socioeconômica.
Família em primeiro, foi o conselho
De um bandido mais velho
Daqueles que a mãe já morreu
Se eu fosse levar a sério
Tinha uma lápide
Sem meu nome de nascimento
Indigente vai assim mesmo
Depois da metade, temos uma mudança de tom e o disco foca mais numa percussão abrasileirada que no drill. “Dia de Luxúria” é uma produção incrível de VHOOR, com referências ao funk e ao batuque em camadas abaixo do beat primário que traz elementos tanto do drill como do trap. Essa mistura se dá de forma totalmente harmoniosa, tendo praticamente três beats se unindo para dar campo a FBC, enquanto ele passeia entre flows mais acelerados e mais lentos com muita tranquilidade.
“Gameleira” vai ainda mais fundo nessa área, apresentando os tambores na linha de frente e dominando toda a música, o beat se constrói conforme ela avança, com entrada e saída dos pratos, 808s e sintetizadores, dando uma sensação de sobe e desce. FBC aproveita a liberdade do instrumental para entregar uma performance mais cantada, lembrando um canto de oração, tendo nela seu melhor desempenho no disco. O trabalho é finalizado com “Sincero Foda-se”, um retorno ao drill mais soturno nas baterias e um sintetizador que permeia a track inteira, dando um ar mais emotivo para FBC se abrir novamente, dessa vez, entregando suas linhas mais fortes do disco ao falar sobre lealdade e expor suas inseguranças quanto às relações interpessoais, fechando com chave de ouro o trabalho.
Com ótimas tracks, sobretudo nas produções, só uma faixa deixa a desejar: a abertura, “Champs-Élysées”. Ela apresenta tudo que esteve errado nos últimos projetos do MC, como o abuso de maneirismos e repetições (o título da track, referência à famosa avenida parisienese, se repete 41 vezes ao longo dos seus 2:49), com pouco conteúdo sendo despejado em uma performance pouco interessante, além do beat que traz elementos do funk e samba, mas os deixa muito escondidos por trás do drill.
Ainda temos alguns problemas estruturais no projeto. A falta de criatividade no refrão de “Champs-Élysées” se repete pelas outras duas faixas iniciais, onde só temos uma frase repetida à exaustão, algo que em sequência perde força. Outro grande problema é a falta de desenvolvimento da ideia da “união da força e da fé/uffé”, que provavelmente funcionaria melhor num álbum completo. A brevidade do trabalho também faz mal por sua coesão sonora: após um início mais pesado no drill e uma descida no nível de energia, com mais foco nos tambores, a subida de volta para “Sincero Foda-se” é muito abrupta, faltando uma linearidade instrumental como existe na temática.
Claro, esses são pontos menores. Como um todo, temos o melhor projeto do rapper desde “S.C.A”, trazendo um belo conjunto de músicas e destaques tanto do ponto de vista instrumental quanto de performance. Em “Outro Rolê”, FBC mostra que, quando ataca em seus pontos fortes, ele pode sim ser um excelente artista. Embora não encontre ainda a genialidade de seu disco de estreia, esse EP pode ser o início de uma curva ascendente para o MC. Sendo esse seu terceiro trabalho em menos de um ano e meio e com seu novo álbum já no forno, tudo indica que não deve demorar muito para que tenhamos uma resposta.