Meus amigos, que temporada distante vivemos hein? Retornei para falar daquele que é conhecido como o Zika – para muitos -, o Zikinha – para poucos -, Zemaru para todos e (logo de início fala que) ao lado de sua dama, pode ser chamado de O TREM.
Totalmente ciente de sua capacidade vocal e o papai do autotune mais brabo de Alfenas e Região, o MC se uniu com LR Beats e soltou logo um álbum completo. Pra quem ouviu “Hiei”, primeiro som da união dos dois, era óbvio que o produtor conhecido por investir tempo no novo e diferente ao lado do plãg resultaria em sucesso, choque, vício e cantoria. O álbum leva o nome “Prólogo” e conta com nove faixas. Destas, três são lovesongs e seis são aulas de autotune e melodia para o seu trapper favorito.
Zemaru havia lançado “3000” antes do álbum, avisando que deveria ser entendido e estourar por volta deste tempo, já que é membro da máfia futurista otaku 2.0. Na primeira faixa de seu primeiro full-lenght ele prova o quão a frente está. A lovesong “Baby” é sobre o amor puro, o camaradismo que vem incluso e as dificuldades que a vida joga sobre isto. “Baby eu acho que eu vou voltar a vender droga/ Ela diz que não rola é muito atraso” entra em contraste com “De onde eu vim mano eu nunca vou perder os laços/ Cê tem hype, mas a cabeça é de cabaço/ Mundo gira e inimigo encontra estrago”, passando um panorama que te imerge na cozinha de um Zemaru pensante, apaixonado e focado em provar que as coisas vão melhorar.
Intensificando a quantidade de amor, as faixas três e quatro são, respectivamente, “Tipo Gang”, que por incrível que pareça é uma lovesong, e “Bunda Ignorante” não trazendo surpresas para ninguém. Há tempos não se via alguém falando com autotune em cima de um beat sobre a mulher amada sem soar ridículo com “flexs, bihs, sauces” e afins. A terceira faixa prova o quão satisfatório pode ser fugir disso; “Bunda Ignorante” é cômica, obviamente, mas a surpresa é que, entre humor, uma letra repleta de exageros e pianos de LR Beats, o zikinha gera identificação pela simplicidade de sua ostentação. Ah, os mais céticos também se espantam por cantarolar (e inevitavelmente reouvir) uma faixa que carrega em sua primeira audição tamanho valor cômico de choque.
Com uma capacidade cognitiva mínima já é possível concluir que um álbum de trap é um álbum de trap, então os problemas aparecem: a tracklist dá seu primeiro sinal de falha de construção em “Palitinho Premiado” que entra como segunda faixa, separando as três lovesongs já mencionadas como destaque do projeto. A track não somente é bem descartável (só não mais que “Big Drip”) como quebra a construção do clima romântico e impede o mergulho na atmosfera do álbum como um todo, golpeando a coesão logo de cara. Apesar disso, a verdade é que ela não deixa de ser empolgante e inclusive ilustra o álbum: palitinho premiado que sai toda hora, os mesmos elementos sempre somados à falta de feats gera uma certa monotonia. Tratando-se de um projeto Zemaru X LR Beats, as produções e estilos acabam se estagnando em alguns momentos.
A quinta música é a única com feat, um gringo de nome Billionaire. O convidado é um problema por algumas questões: A)ninguém conhece; B)com o nome dele é difícil pesquisar; C)apesar de algumas linhas interessantes e uns 15 segundos – somados – de flow agradável, não agrega em nada e não vai participar de apresentações ao vivo. Mas, depois dele entra O ALAKAZAM, vulgo Zemaru, que define precisamente: “Isso é som de carro!” (E no fundo no fundo, o inimigo é fanzin). Sua performance resulta, facilmente, num dos melhores versos do mineiro no álbum, pena que metade da música é ignorável.
Provando mais uma vez que as cativantes e impressionantes lovesongs são o ponto alto e também o ponto fora da curva do disco, as quatro últimas músicas que fecham o projeto não batem tão bem. “Melhoria” é inspiradora, mas pouco inspirada. Tem linhas importantes de autoafirmação, vide: “dá pra ver de longe que nós é raro”, “não se assusta com o deboche”, “eles tem roupas de marca mas esse som é melhor” e, a minha favorita, “ela pagou a conta do motel”. Uma música boa que, dada a construção do álbum, perdeu todo seu sal.
Íntimo do que o trap se propõe a ser, infelizmente nosso herói analisado não perdeu a oportunidade de falar que tem “Big Drip”e soltou a música mais pulável de sua promissora carreira. O mais triste é que desperdiçou o trecho “faz a dança do dinheiro” nessa faixa sem sauce. “Top Gear 3000” e “Tetsu Style” lembram o Zemaru de “3000”: flows rápidos – mas não suficientes pra ser o chato speedflow de branco (salve speenafri) – variação de flow, referências explícitas, cantoria e onomatopeias. Faixas que perdem tração devido à mornada que o álbum jogou na sua cara, belas músicas para se apresentar o artista, mas tão no extremo errado da tracklist.
‘Intensa’ é a palavra que uso pra definir minha relação com o álbum. Como admirador do Zemaru e de várias das músicas do disco em questão, é difícil, mas necessário, dizer que enquanto álbum ou projeto completo, não dá para se colocar em um pedestal. A construção é confusa/bagunçada e isso danifica o produto final. Cinco das nove músicas são ótimas, metade de uma outra também, o resto demonstra falta de lapidação e tempo dedicado. Começa forte, termina forte, o perigo é você desistir no meio. Apesar dos defeitos, a resposta fica cada vez mais óbvia para quando Zemaru pergunta: “Quem é o Zika nessa porra?”.