‘Love Meeting’: álbum do artista mineiro, JV, falha em criatividade e finalização

Projeto feito para falar de amor, se mostra mais um álbum de trap com mesmas rimas e mesmos beats já apresentados

JV é um artista autodidata de Belo Horizonte. O jovem iniciou sua carreira em 2019 fazendo músicas em seu celular e posteriormente aprimorou seus trabalhos no computador. Ano passado, o artista filiou-se à Gravadora De.Preto e, por meio dela, lançou seu último projeto ‘Love Meeting’, um álbum de trap, que de acordo com JV é sua especialidade.

 

O trabalho chega após seu álbum de 2023, ‘Fashion Lifestyle’, com referências que vão de dancehall e afrobeat ao R&B. Já em seu novo projeto, o artista se propõe a falar de amor e seus diversos tipos de relações, prosperidade, suas vivências e autoestima. 

 

O álbum se mostra como outro trabalho de trap com as mesmas rimas, mesmos assuntos abordados e não apresenta muita novidade. O tema do projeto é tratado logo na primeira música, que leva o mesmo nome do álbum, ‘Love Meeting’. Na música, JV diz que marcou um encontro com uma pessoa, que após o momento, o deixou e isso o fez desacreditar do amor. No entanto, a música se torna confusa, como o restante do projeto, em que o ambiente logo se torna uma festa e o artista está rodeado dos “selecionados”, que seriam seus amigos e o encontro que antes parecia algo importante, se torna algo distante.

 

As músicas restantes de ‘Love Meeting’ seguem a mesma cartilha, o jovem ou está apaixonado, pois possui bons momentos íntimos com a parceria, ou o amor acabou e agora ele está focado em fazer dinheiro com seu trabalho na música. Porém, esses momentos vão e voltam de uma forma desorganizada. O relacionamento, mesmo que pareça ser a peça central do projeto, é deixado de lado para dar lugar a outras temáticas que servem como uma fuga do amor. Independente do status amoroso de JV, o artista está correndo atrás do dinheiro ou “tranquilo com a onda do lean”, e isso vai se repetindo em todas as tracks. 

 

Os beats são feitos por Cadence, Dazz, Jazz e Shyy Beats, que conseguem transmitir uma atmosfera mais rápida ou lenta de acordo com o assunto da música. Em ‘correria’, por exemplo, o artista aumenta o ritmo para dar a sensação de que está realmente indo atrás de algo. Já em ‘MDMA’, a produção se torna mais difusa, no sentido de que está por todos os lados para passar a situação de alguém que estaria sob consumo da droga. Mesmo que sejam artifícios já utilizados incansavelmente por músicas desse estilo, os produtores conseguem torná-los divertidos e que não deixam o projeto se ficar tão cansativo. 

foto por Sah deAquino

Na metade do álbum, JV nos apresenta a faixa ‘Aulas’, que foi tratada aqui como um interlúdio. Feito para separar um ato de uma obra, a track não parece responder ao seu significado da melhor forma, já que o que é visto nas outras músicas não se difere tanto do que foi apresentado na primeira parte. O jovem artista repete os mesmos assuntos, os beats possuem pegada e referências semelhantes, mas mesmo que bem selecionadas, são usadas de maneira pouco eficiente e sempre ofuscadas pelas características do trap, o que no fim, acaba mais por atrapalhar, do que ajudar o trabalho. 

 

Ao longo das 14 faixas do projeto, JV aparece como o único artista em sua grande maioria. Os feats – de artistas como Noty, D’Duzin, Magic031, Teeth e MENDAX – não trazem nada de muito novo para o disco, as temáticas se repetem e o uso excessivo de auto-tune, em alguns casos, os tornam quase dispensáveis. A track ‘Shein’ por exemplo, faz uso ineficiente do artifício, pois enquanto o artista principal consegue utilizá-lo a seu favor, o convidado usa o auto-tune de forma cansativa. A impressão que fica é que não houve cuidado para regular o tom dos convidados em nenhuma das músicas e, algo que foi criado para corrigir imperfeições, torna-se mais um erro do álbum. 

 

A artista que mais se destacou foi Giih, que dá leveza à música mais longa do projeto. Com quase 5 minutos de duração, ‘Aonde Chega’, é o ponto de dúvida de um relacionamento, aquele momento de não saber como definir o que as pessoas estão vivendo. A MC traz uma voz mais cantada para a música e consegue se destacar dos outros dois artistas. Com ela, o auto-tune foi utilizado da melhor forma e dá mais vida para o álbum, uma pena que sua participação foi rápida e em apenas uma faixa.

 

A produção da última track, ‘Mínimo’, ficou por conta de Gum64ll – lê-se Gumball – e mostra uma química artística que não foi vista durante as outras faixas do álbum. O MC troca de flow ao longo da música de forma suave enquanto reflete sobre pessoas que fazem apenas o mínimo em suas relações e não ajudam em nada na sua caminhada. Ainda que rimas óbvias sejam feitas como “Se tu não enxerga o JV crescendo, bota um óculos”, o MC consegue ser mais criativo que em outras tracks apresentadas no projeto, aqui ele se mostra capaz de enxergar que o caminho da música muitas vezes pode ser solitário, e é uma pena que essa temática não tenha sido mais explorada durante o disco, o que deu lugar para temas como: o quanto a conta bancária está cheia ou sobre a facilidade que outras pessoas têm de estar com ele, apenas por conta do dinheiro conquistado.

 

Num geral, o álbum ‘Love Meeting’ peca na criatividade e na finalização das músicas, que poderiam ter sido mais trabalhadas. No entanto, JV é jovem e pode amadurecer ainda mais seu lado artístico, pois já apresenta boas referências em seu repertório, porém o artista da capital mineira só não as soube trabalhar da melhor forma.   

 

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