Review: Pop Smoke – Shoot For The Stars, Aim For The Moon

JH aqui. Quem conhece o drill geralmente está mais familiarizado com as raízes do subgênero em Chicago e na Inglaterra, mas, nos últimos anos, tem surgido com muita força uma cena em NY, mais especificamente em Brooklyn. O maior nome dessa galera era, sem duvida, Pop Smoke, MC que surgia com todos os indícios apontados para uma nova estrela do rap. Somente 12 dias após o lançamento da segunda mixtape da série “Meet The Woo”, o rapper foi tragicamente assassinado, se tornando uma grande perda pra toda a comunidade do hip-hop. Alguns meses após o mundo recebe, de forma póstuma, seu aguardado álbum de estreia.

O que encontramos muitas vezes em álbuns póstumos é uma grande tentativa das gravadoras em diminuir seus prejuízos com a morte do artista, tentando sugar o máximo de dinheiro possível de sua obra. Embora não seja um projeto tão orgânica quanto “Circles”, “Shoot For The Stars, Aim For The Moon” também não chega a ser do nível de um dos vários lançamentos póstumos de XXXTentacion, ficando no meio do caminho. Com 19 tracks, quase uma hora de duração e um número enorme de convidados, por vários momentos, o álbum soa mais como um projeto de 50 Cent (produtor executivo e uma clara influência de Smoke) e a equipe do artista que um trabalho próprio do falecido MC, embora encontre versos completos e canções inteiramente gravadas antes de sua morte.

Boa parte dos features tomam a maior parte das tracks e/ou abaixam seu nível. Quavo aparece três vezes no projeto, número alto para qualquer convidado. “West Coast Shit” soa mais como algo que se encaixaria em um projeto do Migos que em qualquer uma das mixtapes anteriores de Pop, além de contar com uma aparição de Tyga que… 2020 né? Além disso “Snitching” contra com 2 versos e 4 refrões de Huncho, um verso longuíssimo de Future (onde, estranhamente, ele imita o tom de voz mais grosso do anfitrião) e Pop Smoke perdido discretamente no meio disso. Seguindo ainda mais, temos “Creatures”, track em que Swae Lee entrega uma participação surpreendentemente boa considerando o excesso de aparições cantadas genericamente nos últimos dois anos, mas a faixa é como se fosse dele, com o dono do disco aparecendo brevemente mais uma vez.

Em “For The Night”, a famosa (ugh) faixa do sample do Sidoka, Pop Smoke vai primeiro dominando o instrumental, aproveitando os espaços deixados e explorando bem sua voz mais cantada, apenas pra ver uma mudança de vibe com Lil Baby que traz (novamente) um verso de flow inconsistente e depois DaBaby, que nunca se importa com o beat oferecido, entrega o mesmo verso de sempre. Se é o que vocês querem, eu vou dar: a faixa do Sidoka é melhor sim (embora ele sufoque o beat mais do que tudo, mas deixemos essa para outro dia).

Os grandes momentos do álbum se dão justamente quando Pop Smoke é Pop Smoke, sem feats e ideias comerciais para atrapalhar. O começo do projeto conta com mais tracks que lembram seus projetos antigos e o que realmente o deu notoriedade em sua primeira mixtape. Versos a sangue frio, ameaças e um flow matador sobram nas primeiras faixas. “Aim For The Moon”, que é a primeira música de fato do disco, começa com um belo verso e um refrão que canta o título do álbum, com Quavo mudando o ritmo na segunda metade sem cair o nível. “44 Bulldog” e “Gangstas” são as duas melhores faixas do projeto, apostando justamente na fórmula do drill, com seu flow característico bem mais pesado e adlibs apoiando o tempo todo na primeira, usando o espaço deixado pelo beat, e, na segunda, usando um loop de piano e os pratos para fazer a subida junto com o flow.

Mais para o meio do disco ocorre “Make It Rain”, primeiro single do projeto, que é o gangsta rap de fato. O artista passa a track com um flow que acelera e reduz enquanto ameaça, basicamente, “fazer chover tiros” em cima dos seus inimigos, track que fica mais característica com o excelente verso de Rowdy Rebel, ícone do coletivo GS9 diretamente do telefone da prisão. A primeira metade do disco é encerrada por “The Woo”, expressão que se tornou sinônimo do MC. Conta com Roddy fazendo sua melhor imitação de Young Thug (o que tem se repetido mais do que seria desejável nos últimos meses) e 50 Cent com um excelente verso que termina referenciando o hino “Gangsta Shit” do G Unit, enquanto Pop Smoke paga tributo a “Candy Shop” num verso com flow que segue a levada do refrão do hit e, surpreendentemente, funciona aqui.

A segunda metade é quando a coisa complica um pouco. O artista muda, sem aviso prévio, para uma sequência de faixas mais lentas pouco características, e nisso é um caso total de tentativa e erro. Nas primeiras duas faixas da sequência o MC fala de relacionamentos ainda num sentido de braggadocio, com “Enjoy Yourself” surfando na onda latina com uma track até que ok e, depois, “Mood Swings” sendo mais uma vez arruinada por um feat desinteressante, agora por cortesia de Lil Tjay. O romantismo domina nas três últimas, com “Something Special”, sendo a primeira vez que o flow de Pop encaixa bem nesse estilo, numa track que é uma versão do hit R&B “So Into You”, indo no melhor estilo “gangsta também ama”. O som então é sucedido por mais duas faixas nesse estilo, em que o flow não encaixa com o instrumental e a voz grave de Pop não foi trabalhada o suficiente para se colocar nesse tipo de canção.

Antes do fim, o rapper volta ao seu estilo mais próprio com “Got It On Me”, onde o rapper interpola o hit “Many Man” do 50, clássico da bling era que Pop Smoke parecia admirar tanto. Numa combinação que não tem como dar errado, o artista usa com perfeição o beat, principalmente no excelente segundo verso. O álbum é encerrado com “Dior”, incluída como bônus, grande hit do artista e que já esteve nas duas mixtapes, uma amostra da força de seu flow num beat mais acelerado que é o que o caracterizou.

Em “Tunnel Vision (Outro)”, faixa que antecede a bônus, temos o encerramento real do disco, é apresentada uma entrevista do rapper em que ele diz que gostaria de ser lembrado como alguém que “mudou o jogo, que chegou e mostrou ao mundo uma nova vibe”. Isso muda a perspectiva do álbum pra algo mais triste por parecer que, de fato, o destino de Pop Smoke era esse dito por ele e dói ver um talento nos deixar tão cedo. Assim como era claro que dentro dele Pop Smoke tinha um grande artista prestes a aflorar, “Shoot For The Stars, Aim For The Moon” tem dentro de si um grande álbum, que é prejudicado pela bagunça colocada a sua volta.

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