Review: Big Sean – Detroit 2

Salve, JH aqui novamente. Big Sean é um dos artistas que mais divide opiniões entre seus parceiros de geração. Presente no jogo há mais de 10 anos, o rapper passou por momentos como roubar a cena no hit de Drake “All Me”, dar um memorável verso em “Mercy” e ser amassado por Kendrick em “Control”, sempre com partes do público colocando ele tanto como um “top 5” quanto como um rapper ruim. Nem tanto ao céu nem à terra, o artista chega com seu quinto álbum de estúdio, “Detroit 2”, seu melhor trabalho até agora.

 

 

Aqui Sean encontra seu trabalho mais consistente, depois de boas – mas não excelentes – performances em seus últimos álbuns: ainda no longínquo ano de 2017, o solo “I Decided.” e o collab “Double Or Nothing”, feito ao lado de Metro Boomin. Embora “Detroit 2” (sequência da mixtape “Detroit”, de 2012) conte com momentos baixos, Sean nunca entregou tanta coisa em um disco, sendo a maior parte de seus erros uma questão mais de escolhas do que de performances realmente ruins.

Essa consistência se dá pela caneta muito boa do MC. Ao longo de todo o disco o rapper manda quotables e punchlines de uma forma muito suave, dificilmente forçando a barra e com raras passadas pelo corny (ao contrário do que rolou com frequência em “Dark Sky Paradise”). Tecnicamente o MC também se mostra excelente, com flows que se adaptam aos beats com uma facilidade incrível.

Boa parte dos pontos altos estão no início. O álbum começa com a ótima “Why Would I Stop”, que conta com um bom beat e o MC batendo forte em seus críticos, se reafirmando e dizendo que é imparável. O início segue com a mesma potência em “Lucky Me”, com o artista se colocando como motivador em uma vibe muito mais introspectiva ao contar coisas de sua vida que, até então, não eram de conhecimento público, enquanto mantem um bom nível de caneta; os beat switchs na segunda metade da track acontecem com muita natureza para algo mais acelerado, onde Sean vem com um flow e entrega ferozes, com a caneta afiadíssima (exceto pela linha da COVID. Não há nada de realmente interessante nessas linhas mais. Parem).

You talk to me nice and not real, I’m insulted
I bet on myself, ain’t no way my hand’s folding
What’s a limitation? Fuck your validation
I don’t got a figure, God flow, got it renovated
Demon slayer and my bitch slayin’, legendary, it’s insinuated
Two guards outside barricaded while I’m serenadin’ (Yeah)

A sequência segue com “Deep Reverence”, que traz o saudoso Nipsey Hussle (RIP) em um excelente verso também igualado pelo anfitrião, com ambos falando sobre sua cultura de rua vir antes do rap; o beat lembra muito algo que estaria no último álbum de Nipsey, “Victory Lap”. Depois dessa vem “Wolves”, com Post Malone, com toda a cara de um hit, boa escrita, refrão forte e divertido e um bom, embora padrão, verso do convidado. “Body Language” conta com sua namorada, Jhene Aiko, e Ty Dolla $ign, a canção é um R&B classudo e uptempo, com uma performance bem sensual da cantora e Ty como sempre perfeito nesse papel de suporte, mas Sean é o mais fraco na canção que, sinceramente, não serve muito bem a ele.

A partir desse ponto o álbum começa a ter tracks redundantes. “Harder Than My Demons” é uma das melhores do disco, com uma escrita excelente atacando na motivação, com Sean dizendo o que a gente precisa ouvir pra seguir na caminhada, mas logo depois dela vem “Everything That’s Missing” que, embora dê linhas interessantes o tempo inteiro e seja uma boa canção, ataca os mesmos pontos da sua antecessora (Life can be a struggle, but what isn’t that’s worth havin’?). “ZTFO” é uma vibe excelente, com adlibs de Travis Scott e uma música que encaixaria bem o feat do MC; mas este só vem três faixas depois com “Lithuania”em mais um dos inúmeros caso de “criar uma canção com a vibe de “Astroworld pra encaixar o Travis”, como se ele não tivesse condições de se adaptar a nada. O saldo final: Travis deveria ter seu verso em “ZTFO” e “Lithuania” não deveria existir.

Nessa porção central do disco ainda há o momento mais incrível em “Guard Your Heart”. Anderson .Paak continua com um total de zero erros trazendo um feat muito bom, com a sua voz marcante e uma linda escrita; Wale, Earlly Mac e Big Sean também têm versos bem acima da média e a produção é belíssima, com piano e bateria funcionando em perfeita harmonia. Outro momento notável no meio do disco é “Respect It”,  um excelente beat de trap mid tempo, do Hit Boy (que cuidou da produção executiva ao lado de Kanye), com Sean tendo mais uma excelente performance partindo para um lado mais braggadocio que pouco usara até aqui, até  Young Thug roubar a cena com seu feat, acertando todos os pontos quando tenta suas conhecidas inflexões vocais.

“Full Circle” é mais uma faixa muito boa principalmente do ponto de vista conceitual, onde Sean vai contando situações de sua vida e como elas se conectam com seu momento atual, sempre mantendo um alto nível de escrita. Diddy, em uma rara aparição, ajuda muito a elevar o nível da música com algumas falas de fundo (ao maior estilo Swizz Beats). O problema é que, a partir disso, pouca coisa realmente interessante acontece, e a nota deste projeto poderia ter sido muito maior se este acabasse aqui.

Não que Sean deixe cair o nível de sua caneta, mas poucos beats são realmente inovadores e ele não diz muita coisa que não tenha sido dita anteriormente. “The Baddest” é um banger com um bom beat, boa performance e tudo mais, mas não tem muito valor dentro do contexto do álbum, além do que, tracks como esta, já temos aos milhares jogadas atualmente. “Time In” foi creditada ao TWENTY88, projeto de Sean com Aiko, soa como se fosse uma sobra daquele EP e é pior que tudo que estava tanto lá (que já não era muito bom) quanto aqui. Sean, por favor, você não funciona como cantor. “Don Life” traz um beat que soa datado (embora seja divertido) e performances apenas ok de Sean e Lil Wayne.

Outro erro de escolha é a fraca “Friday Night Cypher”, que traz diversos MCs naturais de Detroit em um beat bem fraco baseado num loop de piano pior ainda.  As performances que deixam muito a desejar, nem parece mesmo com versos de um cypher, são inconsistentes, com rappers tendo menos de um minuto de mic enquanto Eminem, dono das melhores barras, fica por mais de dois minutos. A track era um momento importante mas deixa a desejar, sem nada realmente notável em nove minutos. Entre outros momentos chatos e desinteressantes (como as excessivamente longas aparições de personalidades da cidade), o disco perde o momento criado por sua excelente sequência inicial, é alongado pra mais de uma hora sem manter o ouvinte entretido o tempo todo. O terço final do álbum não é ruim, mas cansa.

“Detroit 2” é o ápice de Sean até aqui, entregando ótimas tracks de várias formas diferentes, boas performances do anfitrião, bons beats, bons feats e tudo que se espera, mas, mesmo assim, não alcança a excelência. Em toda sua discografia, erros de tomada de decisão têm sido um problema maior para o artista do que qualquer limitação como rapper. Este disco possui um poder muito simbólico pois, voltando à questão do início do texto, o projeto é o mesmo que Big Sean de um ponto de vista artístico: bom, mas não excelente. E poderia ter sido.

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