Review: Derek – EL DEREK

Salve, JH here. 2020 foi um ano bem movimentado para a Recayd Mob, com seus principais integrantes lançando álbuns solo (com o disco de Dfideliz, na realidade, saindo em dezembro de 2019) e um projeto colaborativo entre Jé Santiago e Igu, além de inúmeros singles e participações do coletivo. O C&O da mob, Derek, foi um dos mais ativos no período e agora estende para 2021 sua sequência prolífica com esta nova mixtape.

Além dos singles, Derek lançou dois trabalhos em 2020. Embora o EP “Sexy & Fashion” tenha sido apenas razoável, com grande destaque para uma ambientação muito bem trabalhada e a produção mais “espacial” utilizada, o MC lançou o melhor dos últimos projetos da Recayd com o álbum “Ícone”. O compilado era uma grata surpresa por parte do MC, dando espaço para produções mais complexas e temas mais introspectivos, com o artista realmente disposto a se abrir nas letras. Isso resultou, juntamente com o seu trap tradicional, em um disco muito bom, lançando esperanças sobre seus próximos passos. Porém, infelizmente, Derek jogou toda sua evolução fora e regrediu para fazer a música mais genérica que se poderia imaginar.

As críticas à falta de criatividade de Derek não são novas, mas agora as coisas atingiram um novo patamar. Ouvir este projeto é como colocar no aleatório qualquer playlist padrão de trap do Spotify, onde as canções soam sempre como algo que você já ouviu anteriormente. Os limites estão totalmente borrados entre o que é referência, interpolação ou simplesmente uma cópia. “RACKS STUDIO” lembra muito a faixa “Faneto” de Chief Keef; temos também o mesmo vocal mais forte e caricato que Young Thug usou em “Cartier Gucci Scarf” aparecendo em “FINI NO PURPLE” ou as já conhecidas mordidas no flow e vocal de Playboi Carti. Além de tudo isso, há uma semelhança bem suspeita entre a track “SEM DRAMA – Remix” e uma canção não lançada do Drake que vazou um tempo atrás.

 

Já criticamos aqui no site uma enorme limitação de alguns trappers: a exaustiva necessidade de recorrerem a palavras de efeito em inglês já marcadas do subgênero para completar cada linha, sempre vendo “lean“, “cash“, “money“, “bitch“, “green” entre outras que se repetem em diversas tracks de certos artistas. Mas Derek, novamente, eleva esta barra a um outro patamar ao usar palavras aleatoriamente dispostas (Eu sempre tô sauce, lançando new shit) ou até frases inteiras em inglês (Suck on my dick for real/ Racks on racks on racks). Além, é claro, da repetição excessiva daquelas palavras manjadas. “BLING BLAW” é o exemplo máximo disso, com a escrita soando até cômica, embora igualmente trágica.

Tenho uma hoe, yeah, I got hella hoes, yeah, yeah
Bitch da Califa, huh, bitch, eu taco pica
Brasileira lá do sul ou paulista
Gucci na T-shirt, Gucci na minha face
Moletom Tommy eu lancei pra bae
Gucci bag, Gucci hat, Gucci socks, Gucci bag
Tudo red, bala red, Michael Douglas

Como um todo, se a caneta de Derek já deixava a desejar em “Ícone”, aqui o buraco é mais embaixo. Igual boa parte de seus parceiros de cena, Derek limita quase todo seu conteúdo a quatro temas gerais e varia entre eles sem nenhuma ordenação ou sequência lógica: drogas, ostentação, suas mulheres e ameaças a supostos rivais. Raramente um raciocínio é mantido por mais do que quatro linhas, e no final soa como se ele estivesse improvisando palavras e frases ao vento, sem nenhuma ideia por trás. A exceção fica por conta da curta “ISSO É RAP?”, um boombap que demonstra que Derek, quando quer, consegue escrever algo relevante, com boas linhas em pouco mais de um minuto.

A produção do álbum, para se adequar ao projeto, segue a mesma tendência da escrita de Derek e é quase completamente genérica. Os beats, embora não sejam ruins, raramente são inventivos, em sua maioria seguindo à risca as mesmas fórmulas tão replicadas no trap brasileiro, com loops repetitivos e 808s espaçados, onde não há muita coisa realmente interessante. Temos ainda algumas produções acima da média, como nos graves fortes de Willsbife, na já citada “BLING BLAW”, ou na flauta e violão de Trxntin em “SKYPE”, mas ambas são desperdiçadas pelo artista principal.

Como toda playlist padrão de trap, esse disco traz um bom número de tracks que ao menos são divertidas. “NO LABEL” é uma música em que Derek muda de flows com facilidade em cima de um beat bem dinâmico de Xavi e ainda possui um bom feat do italiano Laïoung. “VVS” é uma faixa elétrica, com Derek entregando um refrão pegajoso e um flow também elétrico em seu verso, eletricidade que é recorrente na curta, mas empolgante, “Bonde do Ó”.

Além dessas, achamos algum material de qualidade nos feats. “DING DONG”, uma previsível surfada no drill, apresenta um belo verso de Igu, que também destroi em “LIL JON”. “SAVAGE” tem uma excelente participação de Xii, que domina o beat em suas duas aparições na faixa. Sabrina Lopes, embora não apresente nada de especial na escrita, tem uma belíssima voz na love song “O QUE VOCÊ FEZ COMIGO”, em uma quebra de ritmo necessária que deveria acontecer mais vezes no disco. Todos esses feats ofuscam completamente Derek, jogando o anfitrião em segundo plano, seja pela brevidade ou pela baixa qualidade de seus versos.

Infelizmente, para cada faixa que se consegue tirar proveito, temos outras que poderiam facilmente ter sido cortadas. “BABY DRACO” é mais um exemplo de extremo tédio, com espaços de beat mal aproveitados e produção vazia demais para criar a ambientação que se esperava, apesar do bom verso de Leozin. Podemos citar também “XANAX CRAZY”, que tem versos fracos em letra e flow de Dé e The Boy. No final das contas, o todo do projeto deixa a desejar do começo ao fim, sendo um amontoado de faixas pouco trabalhadas e muitas delas redundantes, com o agravante da mixtape durar mais de uma hora.

É sempre decepcionante se deparar com um trabalho fraco como é “EL DEREK”, e, ainda mais, quando vem de um artista que há pouco tempo atrás havia mostrado suas qualidades. Possivelmente, esse é o tipo de álbum que o público de Derek e da Recayd consumirá com mais afinco, mas, se em termos de views e plays este é um passo a frente para o MC, em termos artísticos são três passos para trás.

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