Review: AXL – A Vida de Axel Alberigi PT.2: Tudo de Novo

Oi gente, Go aqui. Em 2014, o clássico “A Vida de Axel Alberigi: Antes de Tudo” era lançado, um projeto que contava em sua narrativa as consequências de um assalto pelo olhar do criminoso e de seu filho. O trabalho marcou o rap nacional em seu lançamento como um dos melhores daquele ano. Seis anos se passaram e os sentimentos vividos naquela história voltam à tona com o lançamento de “A Vida de Axel Alberigi PT.2: Tudo de Novo”.

 

 

Com 9 faixas e um sequência narrativa de dar inveja, o álbum se destaca pela entrega do rapper do Vale do Paraíba e ambientação criada dentro dos instrumentais, tornando cada faixa dessa segunda parte da trilogia uma cena de muita intensidade de seu filme favorito. Muito disso por conta do trabalho de mix, master e pós produção feito por Mendz, o que abrilhanta a obra como um todo. 

As primeiras três faixas discorrem sobre o legado de seu pai no seu bairro de criação. Em “BIG FI$H” é onde se faz o primeiro contato com a ambientação criada dentro dos instrumentais, esse que ficou por conta do produtor KVLT. O  uso do som de um helicóptero sobrevoando logo no começo do beat e a adição de barulho de armas no decorrer da track criam a sensação imersiva ao ouvinte de estar presente nas cenas narradas por AXL. O MC, logo no primeiro verso, já cria um link direto com a primeira parte dessa trilogia ao utilizar a seguinte frase: “Saí da cela direto pra guerra”, o que mostra compromisso com a narrativa do projeto. O uso de elementos sonoros do funk no refrão é outro ponto de destaque dentro da faixa, apesar do MC mostrar certa dificuldade de encaixar suas rimas nele, principalmente na segunda linha onde precisa acelerar seu flow de maneira desproporcional para dar continuidade em seus versos.

No baile cantaram meu nome no Proibidão

Trouxe um CD gravado, no bairro só tocava esse som

Histórias, Big Fish, um bandido bom

Que Deus perdoe se causei toda destruição

As duas próximas tracks são “Marimbondo” e “Mamangava”, ambas produzidas pelo conhecidíssimo Coyote Beatz. Com ótimas rimas internas de AXL, distribuídas em dois versos em cada faixa, servem para finalizar essa primeira parte da história e abrir caminho para “O Inimigo”, música que começa a levantar alguns questionamentos sobre a eterna guerra vivida pelo seu pai. O som é produzido por Entidathe com seu belo uso de sample de piano no  instrumental, adicionando muita classe na produção. O uso de elementos sonoros para ambientar o ouvinte também é destacável mais uma vez, principalmente no fim do primeiro verso ao aquecer para a sequência de acontecimentos que estava por vir. Dessa faixa em diante, a intensidade da trama aumenta bastante, os indícios dessa mudança são lançados no segundo verso, criando-se uma ideia de para onde a narrativa estava seguindo.

“A Maldição do Dragão”, de produção entregue novamente por Coyote Beatz, também conta com vocais de Pai Guga; sua única problemática é um refrão que destoa em musicalidade do resto da track, o encaixe entre a passagem “Pra depois me jogar a polícia por cima…” com o restante do refrão não acontece de maneira fluída e torna a experiência sonora relativamente incomoda. No mais, a track tem uma boa performance musical de AXL com um flow mais acelerado no segundo verso e uma sequência de rimas bastante interessante no primeiro:

Aquela personalidade toma conta

Já busquei de tudo, água santa

Todas as igrejas, Católica, Universal

Ouvi os Hare-Krishna, Espírita me falou do umbral

Pisei nesse terreiro, testemunhei por Jeová

Que se foda, se contar, ninguém vai acreditar

Fechei o corpo inteiro

Em uma sessão fiz a Kali nas costas

Com a cabeça dos meus inimigos

Tô lidando com demônios verdadeiros

O ponto máximo da trama acontece em “Nada de Novo”,  o instrumental traz KVLT mais uma vez e inicia com sons de radares ao fundo, o grande destaque é a guinada que o beat dá no fim do primeiro refrão, jogando a intensidade da track no alto e transformando os versos de AXL em uma cena de cinema. O MC, dentro de todo o projeto, possui uma entrega muito forte principalmente pela sensibilidade em contar a história de seu pai, no entanto, nessa faixa em específico, é onde o delivery todo é visto com maior clareza: na medida que o instrumental começa a virar, Axel acelera seu flow mais uma vez e vai além ao adicionar mais energia à sua voz. Esses dois últimos elementos ganham destaque narrativo pelo o que vem acontecendo na história, uma cena de fuga desesperada que foca na essência dos laços familiares em meio ao caos de guerra travada que, nesta altura, já se torna praticamente um personagem da trama. Definitivamente, a melhor track do álbum.

As últimas três faixas do projeto apresentam uma diminuição de intensidade, mudança plausível diante das temática abordadas, onde a reflexão da ausência do pai na vida de AXL é constante. “Guatemala” é produzida pelo próprio MC e conta com os scratches de “Vida Loka Pt.2” do Racionais MCs feitos pelo DJ Cost. Por mais que a energia do álbum tenha diminuído, quando comparada ao apresentado até o momento, isso em nada atinge a performance de AXL que mantém o nível de sua entrega visceral e storytelling impecáveis: 

Tô indo embora, logo a gente se vê

Vai ser melhor pra mim e pra vocês

Eu sinto muito

Aqui vou eu de novo, aqui vou eu, vou

Só com a roupa do corpo, vida de loko que sou

Dizem que do outro lado tem um sonho pra viver mais um pouco

Pra sair desse sufoco

Pelo deserto quase morto

Em sequência, “Histórias Perdidas” é um interlúdio que pavimenta o caminho para a última faixa do álbum, por meio do relato de um amigo da família do MC. Nele, o ouvinte se vê diante dos dois lados da personalidade do pai de AX, a reflexão, por meio de algumas anedotas, recai pela primeira representação mais direta de como este era uma boa pessoa para quem importava. “Será Doce Morrer” foi lançado em 2018, dois anos antes do lançamento deste trabalho e, mesmo com esse distanciamento, a track finaliza muito bem a segunda parte ao mostrar o cuidado de pré-concepção desse projeto. Carregada de sentimento e acompanhada de um clipe bastante íntimo com cenas de quando AXL era ainda um bebe de colo, há um final coerente e bastante positivo para a perspectiva familiar e intimista, mote deste trabalho.

A segunda parte da vida de Axel Alberigi é como um filme carregado de intensidade e sentimento, com uma produção bem ambientada que transforma o ouvinte em um ser presente na narrativa, mesmo que sem participação nos fatos. O MC continua com sua capacidade de contar histórias em dia e principalmente mantém uma entrega forte e consistente em seus versos. Não sabemos quando a terceira e definitiva parte dessa trilogia vai chegar, mas, pelo o que ouvimos até aqui, podemos esperar mais um grande trabalho de AXL.

Review: AXL – A Vida de Axel Alberigi PT.2: Tudo de Novo
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