Review: Luccas Carlos – Solar

Salve, JH aqui. Membro do famoso Bloco 7, Luccas Carlos silenciosamente se consolidou como um dos maiores (se não o maior) artistas do R&B nacional. Nos últimos três anos, o artista empilhou hits e colaborações dentro do rap, como participação com Rashid na memorável “Bilhete 2.0” ou com Bk’ em “Planos”, e ainda, atuações em Poesias Acústicas; além disso, se tornou um nome presente na música pop nacional, aparecendo no hit “Embrasa” de Vitão e em faixas com Di Ferrero e Jade Baraldo.

Nessa linha de atuação, o caminho mais usual e rentável tem sido o lançamento de diversos singles e feats, e é nele que Carlos seguiu, acumulando mais de vinte dessas faixas. Embora isso funcione bem para o público geral, para uma audiência mais crítica e focada no artista, faz falta um trabalho mais extenso, embora este tenha servido ao longo dos últimos anos alguns EPs solos e outros colaborativos. “Solar” vem para suprir esse espaço, sendo o primeiro full-lenght do artista desde a mixtape “Terapia, vol. 1”, lançada no longínquo ano de 2013. Nessa nova mixtape, mais do que se consolidar na linha do r&b/pop, Luccas vem para mostrar sua versatilidade.

Essa versatilidade vem num projeto dividido em três momentos. O primeiro deles é explorando o trap, que embora não seja exatamente uma área nova para o MC, nunca foi explorado com foco em seus trabalhos anteriores. Começamos a viagem com uma amostra forte da sua habilidade em “Sem Pressa”, onde o MC demonstra logo de cara flows que variam ao longo de toda a faixa, um refrão muito contagiante num belo beat em cima de violão de Paiva, além de uma boa química com Clara Lima. Em seguida, temos “For Real (remix)”, uma faixa estranha de se ter aqui, considerando ser um remix da track que estava no álbum mais recente de Derek. Apesar disso, Luccas mantém um bom nível nos versos, soando como alguém muito habituado ao subgênero. “Fatboy” e “Roleta Russa” fecham este primeiro momento mais voltado ao trap, onde foca em traps ainda mais genericos e uma temática mais voltada ao braggadocio.

Durante essa fase, Luccas mostra que em termos de performance ele consegue ir cabeça a cabeça com a maior parte da cena nacional, valendo-se de deliverys mais elétricos ou melódicos encaixados em cima de bons beats sem dificuldade, inclusive se mostrando mais confortável que Clara Lima na primeira track e entregando melhores versos em “For Real” do que Derek fez na versão original. Na outra mão, não temos nada de realmente inovador nos flows, sendo na maior parte destes midtempo padrão com algumas variações, mas dá para dizer seguramente que é um genérico muito bem feito, além de mostrar Luccas como uma alternativa de feat para qualquer área que for colocado. A caneta é onde temos alguns problemas, pois, tematicamente, não possui nada diferente do que padrão da cena e ainda assim apresenta algumas rimas totalmente forçadas.

Gosta quando canto no ouvidin’
O celular dela só dá Claudin’
Eu quero ver tu subir e descer
Sem compromisso pra gente bebê
Eu trouxe um whisky pra gente beber
Só mе pedir que eu pеgo pra você

Passado esse primeiro momento, Luccas volta para a sua bag, numa sequência de r&bs classudos e faixas mais acústicas, com a temática romântica em primeiro plano. Essa parte do disco, começa com o pé direito na excelente “Te Deixo Voar”, uma faixa com um grande beat de Pedro Lotto/Paiva/Duani carregado por um belo loop de violão e uma bateria contida para dar espaço à incrível performance vocal de Luccas, que, além de dois curtos versos (que funcionam mais como pontes), entrega um belíssimo refrão. Para além disso, Felp 22 chega num excelente verso e dá o melhor feat do disco, completando a track que tem o melhor material de hit de todo o projeto.

Depois dessa o álbum entra numa sequência de altos e baixos. “A Lua Só Pra Você” é uma faixa com uma escrita decepcionante e um dos beats mais simples, com toda a canção se apoiando na exploração da excelente voz de Luccas, o que acaba sendo pouco para justificar a sua inclusão. “Cicatrizes” é um belo cruzamento entre uma performance de R&b e um beat com cadência de trap, trazendo uma estrutura mais fluída com verso único e uma boa performance em flow e voz. Temos uma nova queda em “Só Por Hoje”, que talvez seja a pior colaboração entre Luccas e Bk’ até o momento. Apesar de bem escrito, a entrega fraca e o flow que engasga na primeira metade tornam esse um dos feats mais esquecíveis da carreira do convidado, e a performance de Luccas só se destaca pelo refrão chiclete, tendo uma escrita fraca sobre um beat de um NAVE que também não salva o resto.

A terceira e mais longa parte do disco mostra Luccas tentando juntar as duas áreas anteriores e um maior apelo pop, misturando flows de trap com mais exploração vocal – às vezes em traps melódicos, às vezes em performances r&b com pequenos versos mais rimados – a beats mais fluídos e de elementos mais comuns ao pop, além de uma temática mais sexual. Aqui se dá a consolidação da versatilidade do artista, que mostra conforto trocando de estilo dentro duma mesma canção.

,”6 am” conta com um beat excelente de Pedro Lotto, com kicks fortes e 808s entrando pontualmente, além da guitarra dando um charme a mais. Em cima disso Carlos passeia com mudanças de flow dentro do longo refrão e entrega um forte verso único. “Automaticamente”, o lead single do projeto, tem todo o apelo pop com mais um refrão chiclete (que é até mais longo que o verso), além de um bom beat de Paiva, se apoiando numa bateria mais limpa, um sample vocal e uma linha de baixo bem marcado.

A reta final apresenta alguns traps melódicos, mas, com essa volta mais pesada do subgênero, retorna também a mesma toada da performance do início: escrita pouco criativa e bons flows, além da sempre frequente qualidade na performance vocal; basicamente, boas faixas para se encaixarem em qualquer playlist de rap. Destaque maior vai pra “Meu Bem”, que tem entregas mais elétricas e um ótimo beat mais acelerado de EMIDOIS, encaixado em cima de um bom loop de piano. Também merece uma menção o ótimo (como de praxe) feat de Jé Santiago em “Sabe Fazer”, que, embora não seja uma track especial, é salva por um baita verso do membro da Recayd.

A produção, majoritariamente carregada por Pedro Lotto e Paiva é perfeita pra esse trabalho, ficando muitas vezes no banco de trás para a amostra dos (grandes) talentos performáticos de Luccas Carlos. Mas, em todas as vezes que esta assume uma posição de destaque, fica claro porque estes estão entre os produtores mais hypados da atualidade. O principal destaque negativo vai para a caneta do cantor, que se mostra pouco criativa na maior parte do tempo e depende demais da voz do cantor e pronúncias mais alongadas para tomar o tempo, tendo diversas rimas pobres e versos pouco trabalhados (“Sigo na bala que nada mudou/Foda-se o otario que vacilou”).

Embora não mostre nada exatamente novo, Luccas Carlos justifica seu apelo popular e se vende como um homem que consegue atacar em várias áreas, expandindo seu catálogo no trap e reforçando sua posição como um dos maiores vocalistas da cena. Esse ainda não é o trabalho mais conciso e mais original do MC, mas, para uma mixtape, “Solar” faz um trabalho bem feito.

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