Review: Orochi – Lobo

Orochi mostra clara evolução no quesito conceito de um grande projeto musical, mas erros antigos ainda são frequentes em seu trabalho.

Não há como negar que Orochi é, atualmente, um dos grandes nomes do rap nacional. São mais de 3 milhões de ouvintes mensais no Spotify, redes sociais que passam da casa dos 4 milhões de seguidores e um público fiel que aguarda ansioso por cada novo lançamento do MC de São Gonçalo. Em 2020, lançou seu primeiro álbum intitulado Celebridade, projeto que dividiu opiniões, das quais, de um lado, a crítica citava a falta de originalidade sonora do projeto e, do outro, fãs apaixonados se deliciaram com hits como ‘Amor de Fim de Noite’. Pouco mais de um ano depois, o campeão do Duelo Nacional de MCs de 2015 volta com um novo projeto intitulado Lobo.

A proposta narrativa do novo álbum soa como um tributo à sua produtora, onde o MC, por diversos momentos, brinda em suas rimas o sucesso que vem alcançando nos últimos tempos junto de seus companheiros. No sentido de seguir o conceito de “matilha”, Orochi convocou apenas integrantes da Mainstreet Records para o álbum, o time de feats é composto por BIN, PL Quest, Borges e o recém contratado MC Poze do Rodo. A premissa se mantém também no quesito produção, onde todas as faixas são assinadas por Ajaxx e Kizzy Beats.

Se Celebridade enfrentou diversos problemas por várias faixas parecerem iguais aos ouvidos, principalmente devido à performance do MC, novamente nos deparamos com essa problemática em Lobo. Músicas como ‘Deixa Chapar’ e ‘Arrasta Pra Cima’ possuem flows melódicos bem similares com pequenas variações de cadência em seus refrães que pouco contribuem para desfazer a estranha sensação de serem a mesma faixa.

Outro problema notável dentro do projeto são as rimas sem grandes lampejos de qualidade de escrita por parte do MC, onde a lírica é basicamente composta por rimas externas sem uma grande dedicação para a caneta, exemplo em ‘Se O Mundo Acabasse Hoje’, track de versos sem muito brilhantismo que são sobrepostos aos instrumentais:

Sua vida é única, meu bem

E quem vai viver por você?

Quem vai sorrir? Quem vai chorar?

No fim quem vai se arrepender?

Quero sentir seu cheiro aqui

Pelo menos mais um segundo

Transamos como se fosse

A última foda do mundo

Em uma máxima, nas músicas onde Orochi rima sozinho as estruturas são similares, nestas, pontes, refrães e saídas ocupam boa parte do tempo da cada faixa, o que sugere um apelo bem comercial, com abuso de vocais cantados e beats lentos que usam bem os sintetizadores. A premissa muda um pouco quando os feats entram no jogo, em ‘Champagne’, por exemplo, BIN e PLQuest entregam versos maiores, porém aqui  não há rimas que brilham aos olhos. BIN ainda trabalha um pouco mais com rimas coroadas no terceiro verso, porém, em uma escala tão pequena, que passa quase despercebido. A produção de Kizzy é uma composição muito bem montada onde o hi hat guia a performance dos MC’s, o que melhora em muito o resultado da faixa.

De uma maneira geral, as produções são os grandes destaques do projeto. A faixa ‘Lobo’, com feat do pitbull do funk, Poze do Rodo, é muito bem ambientada com a adição de uivos, além de um ótimo uso do autotune por parte do anfitrião, principalmente no terceiro verso, e um beat com sintetizadores bem postados ao seu decorrer. Vale destacar a performance de Poze também, que, apesar de uma musicalidade diferente do que está acostumado a performar, consegue fazer um ótimo trabalho. É realmente interessante a maneira como ele e Orochi intercalam no último verso, entregando um resultado bem satisfatório. ‘Imã’ é outra faixa que se destaca no quesito produção musical, um sample de guitarra ao fundo que percorre por todo o beat engrandece demais a música. Indo além, ótimos vocais são adicionados a um bom refrão para construir o ponto chave da track. Definitivamente, temos a melhor faixa do álbum. 

Outra aposta bastante notável é a tentativa de emplacar refrães como o grande momento de cada música, a estrutura das faixas tende a favorecer cada um deles, porém, nem sempre o resultado é positivo. Tracks como ‘Sobre Nós’ e ‘Versace’ têm estruturas bem parecidas com ganchos repletos de vocais cantados e adlibs para as entradas dos refrães. Mas estes não se sustentam devido, novamente, à lírica sem brilho do MC, fazendo com que a qualidade da música desça alguns níveis:

Em algum canto

Longe de tudo

Longe de todos

Naquela vibe

A nossa foda é sempre um ménage

Porque ela tem o rosto da Kylie

Com a bunda da Nicki Minaj, yeah

No entanto, a última faixa, “Inverno”, consegue se destacar no que diz respeito aos refrães, e encerra o “Lobo” em um bom momento, onde ideias sobre o tributo a sua matilha retornam aos holofotes de seus versos.

Em seu segundo álbum, Orochi mostra clara evolução no quesito conceito de um grande projeto musical, mas erros antigos ainda são frequentes em seu trabalho. As faixas cumprem seu papel dentro da proposta narrativa, onde as temáticas de vitória individual e conjunta sempre aparecem. As produções continuam se destacando pela qualidade na adição de instrumentos como guitarra e ótimas linhas de bateria, porém, problemas com uma caneta sem muita genialidade voltam e flows sem variações continuam protagonizando momentos de baixa, em meio a tentativas sem sucesso de emplacar seus refrães, o que, de maneira geral, pesa no resultado final de Lobo.

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