Nas sinaliza desejo de voltar ao topo com álbum “Magic”

Talvez esse álbum fosse aquele que alcançaria o hype criado em cima de “Nasir” (produzido por Kanye West, em 2018) na volta de seu hiato de seis anos, embora não haja nenhuma pretensão para isso.

2021 foi um ano e tanto para o Nas! Após lançar o segundo capítulo da sua série de discos “Kings Disease”, com sucesso tanto comercial quanto crítico, lhe rendendo um Grammy de melhor álbum e outra indicação para a mesma categoria com “Kings Disease 2”, o rapper ainda encontrou tempo pra entrar no estúdio, com seu novo parceiro de sucesso Hit-Boy, e entregar mais um álbum antes do Natal. “Magic” chegou no dia 24 de dezembro com nove músicas inéditas, e para delírio de seus fãs, o MC parece ter de fato encontrado a regularidade que a crítica sempre fez questão de pontuar em relação a seus trabalhos, e o produtor tem boa parte desse crédito.

O álbum possui apenas duas participações: Asap Rocky e seu velho conhecido, Dj Premier. Os dois acrescentam seus talentos em “Wave Gods”, e para surpresa, ao menos para esse que vos fala, a track bate muito forte. É uma celebração sobre o estilo de vida de um rapper bem sucedido seguido por uma participação sublime do Preemo, que capricha nos samples e nos scratchs. A química entre os dois mc’s é contagiante e Rocky gabarita o flow, lembrando muito seu auge artístico de “LIVE.LOVE.A$AP”.

Nas sempre foi preciso quando o assunto é abrir um disco, e dessa vez não foi diferente. “Speechless” além de ser uma pancada e lembrar momentos gloriosos do rapper, possui o melhor beat dentre as nove faixas. O sample de guitarra, a harmonia completamente atmosférica e a mescla perfeita com a bateria, deixa o cenário perfeito para o MC brilhar. Apesar de ser um assunto batido, ele traz de volta o tema O.G x Nova geração e aborda sua longevidade no rap, sua independência da internet e o sucesso que ainda bate em sua porta mesmo depois de todos esses anos. Sempre com rimas precisas e poéticas.

E pra quem achava que aquele flow de 94’ havia se perdido, “Meet Joe Black” está aí para contestar essa afirmação. Apenas com alguns retoques e muito mais maturidade e controle, Nas está mais versátil e com uma energia implacável. Dando sequência ao tema anterior, o rapper relembra o quanto sua arte evoluiu e influenciou toda uma geração, enquanto aproveita para continuar as críticas a quem o desvaloriza, incluindo no final da faixa um áudio de 2008, ano em que surgiu um vídeo do Soulja Boy, em tom de deboche, dizendo que quem matou o hip-hop na verdade foi o Nas (fazendo referência ao disco “Hip Hop is Dead”, de 2007).

Apesar de “40-16 Building” e “Hollywood Gangsta” não impressionarem tanto quanto as anteriores, ainda sim conseguem atingir uma qualidade decente. Com esmero na composição seguido por um vocabulário muito diversificado, o mc é capaz de roubar sua atenção fazendo ótimas referências, encaixando sistematicamente entre suas multissilábicas como por exemplo:

 

“I got that feeling, Lionel Ritchie, dancing on the ceiling,

Hope it resemble a Van Gogh when you paint me the villain,

The hate is real but you should know that love is way realer,

Crafty with a pen way before i could pack’em in”

 

Sobretudo, algo que não para de nos impressionar é a versatilidade de Hit-Boy, que independente da estética, consegue colocar sua assinatura em todo tipo de beat. Em “Ugly” e “Wu for the Children” (o título é uma homenagem à frase dita no Grammy de 1998 pelo Ol’Dirty Bastard do Wu-Tang Clan), o produtor deixa a melodia tomar conta, colocando as baterias em segundo plano. Ainda que esse cenário não seja novo, claramente ele vem testando as habilidades do rapper, o colocando para brilhar também fora do boombap. De início pode parecer difícil traçar um paralelo entre as duas faixas, mas conforme as audições passam, é possível perceber o contraste e como elas se completam. Enquanto uma busca abordar o terror e a violência das ruas, prestando homenagem a aqueles que sofreram das brutalidades que assombram as periferias, a outra prefere celebrar a vida de todos que partiram e os que ainda estão fincados dentro da cultura hip-hop, servindo de inspiração para a juventude. Ele ainda reserva uma linha para dizer que ele, Jay-Z e Biggie são como Cole, Drake e Kendrick, tentando situar aqueles que não conheceram ou não acompanharam a época de ouro do rap.

O disco fecha as cortinas com “The Truth” e “Dedicated”, mostrando o quanto a dupla (produtor e mc) está no ápice do entrosamento. A forma como o Hit-Boy consegue não só atingir a alma do ouvinte viúvo da velha escola, como também faz tudo sem perder sua essência, estimulando o Nas a buscar novos padrões de rima e reviver técnicas antigas sem soar totalmente datado, é crucial para que as músicas que trazem um conteúdo recorrente, seja recebida de braços abertos pelo público.

Talvez esse álbum fosse aquele que alcançaria o hype criado em cima de “Nasir” (produzido por Kanye West, em 2018) na volta de seu hiato de seis anos, embora não haja nenhuma pretensão para isso (já que ele mesmo deixa claro em uma linha na música “Ugly” que esse projeto é apenas uma preparação para o que agora se tornará uma trilogia, “Kings Disease 3”). Dentro desse contexto, o disco funciona muito bem e entrega a magia de ver o Nasty Nas de volta ao laboratório, buscando sua melhor forma.

Mesmo que “Magic” não seja tão focado, conceitualmente falando, e nem mesmo tão desenvolvido quanto seus dois últimos álbuns, ele conquista através da energia. Pouco material do MC durante os anos 2000, pós “Stillmatic”, foi tão elogiado e tão bem recebido quanto seus últimos trabalhos. Mas isto não ocorre por questão de entusiasmo: Nas claramente está em uma corrida atrás do seu segundo auge dentro do rap.

Melhores músicas: Speechless, Meet Joe Black, Wave Gods e The Truth.

A Inverso é um coletivo dedicado a cultura Hip Hop e o seu lugar para ir além do comum.